Na era dos amores descartáveis e efêmeros - PARTE 2

 By Cathy Scarlet



Por que se relacionar se tornou um jogo? 

E

 Por que as pessoas não permanecem?


Como prometido, após um tempo mais do que considerável, estou dando continuidade à postagem "Na era dos amores descartáveis e efêmeros - PARTE 1", no qual expus sobre a dificuldade de algumas pessoas manterem relacionamentos duráveis... E saudáveis, também. E, na PARTE 2, meu foco será, principalmente, nessa inconstância frequente dos indivíduos nesta fatídica era PÓS-MODERNA (um dia ainda falarei disso, mas vamos centrar num assunto por vez, né?) e como tal fato atrapalha no estabelecimento ou sucesso das relações amorosas significativas (pois sabemos que relações sexuais, por melhores que possam ser para a grande maioria no Universo, não se encaixam nesta minha fala, uma vez que nem todas - vale ressaltar para não acarretar em juízos negativos de valor - envolvem relacionamentos duradouros ou de importância).


E o que me traz, mais uma vez, a esta temática tão complexa (pois, sim, quando envolve nós, seres humanos imperfeitos e complicados, temas como este são extremamente difíceis de discorrer sobre, já que não há um ponto de vista único nem final que dê cabo deles) e tão exaustiva? Para começo de conversa, o assunto é sempre muito polêmico e ajuda a causar certa tensão ou expectativa, portanto, meu field (campo) e, além disso, nunca é de mais contribuir para alavancar uma discussão democrática e enriquecedora a cerca dos inúmeros assuntos das nossas vivências nesse mundinho de Deus e compartilharmos experiências, pontos de vista, então... 'Bora lá!


Não raros são os casos de pessoas em busca de um relacionamento sério ou, ao menos, de encontrar alguém bacana, com quem se identifiquem. Contudo, surpreendentemente, algumas dessas mesmas pessoas se embrenham no que chamo de "jogo do amor" ou, como a Lady Gaga chamaria, com suas imagens sedutoras e de linguagem sugestiva: LOVE GAME. Se bem que há uma variedade de  músicas tratando desse jogo, até uma do Santana com a cantora Michelle Branch (The Game of Love). Todas são muito bacanas, mas trazem o lado negativo desse jogo: o apelo sexual excessivo, o controle e domínio de uma das partes sobre a outra, essa necessidade do outro que, em muitos casos, carece de reciprocidade (e isso é péééééééssimoooooo!), a instabilidade dolorosa (nunca saber-se ou confiar-se correspondido em seus anseios e expectativas, nunca saber se é a única pessoa com quem a outra parte se relaciona, etc). Nota-se um excessivo medo de comprometimento, seguido de uma intensa necessidade contraditória de possuir o outro ou outros: sua atenção, seu tempo, sua esperança; de forma que, com isso, o ego do outro se infle ou que sua necessidade de autoafirmar-se se acalme mediante o reforço alheio à sua autoestima. Parece loucura e, realmente é desse néctar do qual alguns se alimentam, sem oferecer o mesmo em contrapartida. 


This is the GAME OF LOVE or THE LOVE GAME! 😎


Ordinariamente surreal, todavia sua complexidade nos leva a patamares acima de uma abordagem simples. Entendam: nada envolvendo a espécie humana é SIMPLES! Tudo é complexo e se "complexiona" (sim, inventei essa palavra) mais, se ramificando, se tornando um emaranhado de sentimentos, problemas, caos com soluções mil, mas nada colocado à prova (ou pouco, para não ser pessimista), porque temos medo das soluções: nem sempre são como esperamos, com um final feliz. Apenas acabam nos poupando de complicações, nos afastando do objeto de discórdia, por assim dizer e, repetindo, nem sempre é o que queremos, pois somos seres carregados de HOPE (esperança), ansiando pelo melhor panorama possível, queremos sempre acreditar no lado bom da força... E esquecemos que Darth Vader foi quem escolheu seu próprio destino. Portanto, não estamos incólumes de enfrentar obstáculos no lidar com o outro. E, nessa era Pós-Moderna, os impasses se intensificaram drasticamente, de braços dados com os avanços tecnológicos: afastamo-nos da possibilidade de intensificar e estamos esmorecendo as relações interpessoais. Os porquês são inúmeros e nos levariam a uma discussão infindável, cujo caminhar apenas tardaria a conclusão. Não é, definitivamente, meu propósito aqui. Só adianto uma coisa: não estamos preparados para lidar com os obstáculos e com as dificuldades e, obviamente, há quem simplesmente abandone o barco ao menor sinal deles numa relação ou relacionamento.


___Ué, mas tem diferença entre relação e relacionamento?


Tecnicamente, não. Mas, as diferencio num contexto situacional mais específico para facilitar o uso de tais nomenclaturas: relacionamento são laços duradouros criados com outros indivíduos, amorosamente ou não; relações são situações momentâneas de envolvimento com outros indivíduos, amorosamente ou não. Só para situar, porém não encanem com esses pormenores, servem mais para delimitar as abordagens na minha cabecinha. 😉


___E como tu sabe que não estamos prontos para lidar com as dificuldades nas relações com as pessoas?


Ora, basta olharmos algo muito em voga atualmente: os APLICATIVOS DE RELACIONAMENTO!

Os apps the relacionamento se tornaram uma febre no século XXI, aproximando e distanciando as pessoas, ao mesmo tempo

Desenvolvidos para conectar as pessoas a fim de um relacionamento, os aplicativos se tornaram um facilitador nas relações interpessoais com quem nem imaginaríamos poder conhecer no nosso dia a dia, regular, padrão, normal. Até aí nenhum problema, tudo maravilhoso! Certo? Bom... Nem tanto.

Conectar-se com outras pessoas virtualmente se tornou uma realidade de dupla amplitude: positiva e negativa


___Peraí! Tudo tem um "but" pra vc!


Rindo litros, mas sem malignidade. Constatações que me permitem a segurança de dizer que APLICATIVOS DE RELACIONAMENTO PERDERAM SUA FINALIDADE PRINCIPAL:

1. Muitas pessoas aproveitam os aplicativos para sexo sem compromisso (até mesmo, outros casais) e APENAS sexo;

2. Há pessoas casadas procurando envolvimento amoroso extraconjugal. Em muitos casos, até se fazem passar por pessoas descompromissadas, ludibriando a outra parte a fim de satisfazer seus próprios desejos obscuros;

3. Muitas pessoas não são sinceras sobre quem são ou sobre o que estão procurando neles. Notoriamente, dizem o que esperam que o outro deseja ouvir e, no fundo, não valem o que comem ou, simplesmente, não têm coragem de admitir suas verdadeiras intenções, deixando de colocar as "cartas sobre a mesa";

4. Algumas pessoas estão ali para se aproveitarem de outras emocionalmente e até para aplicar golpes financeiros;

5. Há uma constante volatilidade nas atitudes: uma ora gostam de ti, em outro momento, de outra e por aí vai, incessantemente numa eterna roda-viva. A variedade de opções no "cardápio de pessoas" ou do menu geram essa constante insatisfação pela pessoa anterior e, consequentemente, a "substituição" por um "prato melhor" ocorre sem prévio aviso ou sem que a outra pessoa seja levada em consideração. E, não estou falando aqui de "desistência" por falta de afinidade, mas aquela que se dá por motivos fúteis, levando a uma decepção evitável de outrem.

Inúmeras outras razões poderiam ser elencadas nesta singela lista, entretanto acredito que cinco já sejam mais do que suficientes para ilustrar minha declaração anterior e para apontar algumas razões para a não permanência de uns na vida de outros: APLICATIVOS DE RELACIONAMENTO PERDERAM SUA FINALIDADE PRINCIPAL.


Devemos exterminá-los da face da Terra? Bom, eu não iria por esse caminho; soluções extremistas acabam findando com as exceções por sua inexorabilidade, pois, THANKS GOD, ainda há aqueles serzinhos que fogem a quaisquer possibilidades negativas enumeradas e, se não se engajam em um relacionamento, ao menos, são sinceros em suas intenções desde o início e não fazem gato e sapato das pessoas que neles confiaram. São raridade, quase espécimes em extinção, mas existem.


Retornando ao cerne pretendido: por que o amor, o relacionar-se tornou-se um jogo? Porque a falta de empatia também passou a vigorar em pleno século XXI, onde injustiças históricas, sociais e culturais já são de nosso conhecimento, onde a tecnologia veio para facilitar nossas existências, onde passamos a nos comunicar com mais pessoas, de culturas e modos de ser diferentes, tendo a possibilidade de expandir nosso repertório espiritual, de conhecimento... Nada adiantou. Continuamos a pensar em nós mesmos, egoisticamente. E, dessa maneira, não nos preocupamos com sentimentos, expectativas ou sonhos alheios, desde que possamos ser satisfeitos naquilo que nos propicia prazer, alegria e nos enleva o ego. 


___E o outro? 

___Bom, que se dane! 


Consequentemente, tal modo de agir e pensar nos leva a considerar tudo um jogo, onde o melhor vence: aquele que te seduz mais, de maior lábia, de mais status, quem tem maior popularidade, quem é mais belo, mais atraente... Enfim, gera-se uma cadeia de "eu preciso ser melhor do que todos" ou "eu preciso ter o melhor de todos" na mente das pessoas. E isso nos esvazia. O que sobra quando nada parece ser o melhor? O nada. O que sobra quando tudo já foi experimentado? O nada. Tornamo-nos insatisfeitos, pois colocamos objetivos inatingíveis para  pessoas reais e até nos colocamos num patamar de seres sublimes de modo equivocado e excêntrico. E, pessoas reais são falhas, têm defeitos, algumas manias chatas ou insuportáveis e, sinceramente, NÃO HÁ NADA DE ERRADO NISSO.


E o que ocorre com aquele que não era o melhor e foi rejeitado, com aquele que perdeu a partida nesse jogo cruel e sem sentido? Bom... Essa pessoa começa a se sentir inferior, começa a achar que há algo de errado com ela, que é um objeto com defeito, quebrado. Nisso, muitos problemas surgem: doenças psicossomáticas, depressão, ansiedade, distúrbios do sono... Até mesmo a felicidade sai do olhar de pessoas que sofrem tais decepções. Geralmente, são aquelas que não sabem jogar o jogo e somente vivem na ilusão inocente de estarem sendo conquistadas ou de estarem conquistando... Quando se dão conta de terem sido passadas para trás. É cruel, gente, extremamente cruel e desnecessário. Não importam as justificativas que alguns deem a isso: decepcionar alguém, quebrar sua confiança e expectativas apenas gera consequências com as quais a outra parte lidará para o resto da vida. Não é justo.


___E eu com isso? O importante sou eu!


Típica posição de alguém extramente narcisista. Comum, claro, porém imbecil (e me perdoem se parece ofensivo): não vivemos sós, somos seres que necessitam dos outros, de uma forma ou de outra. Além disso, eu acredito na frase "o mundo dá voltas", significando que uma ação nossa no presente pode reverberar no futuro, recaindo sobre nós mesmos. Há quem acredite em carma, e também funciona. E há quem não acredite em nada, mas só para enfatizar como é tolice se pensar assim: somos exemplos de outras gerações. Nosso comportamento molda ou influencia outros e as consequências podem ser desastrosas se pararmos para considerar o quanto a sociedade tem regredido em pontos tão essenciais como o respeito ao próximo e nos diretos e deveres como cidadãos. Decididamente, nada ocorre por acaso. São apenas reflexos dos comportamentos adotados dentro da estrutura social da qual fazemos parte e pela qual somos responsáveis. Isto é, se não nos solidarizamos nem temos empatia, provavelmente serviremos a um modelo negativo passível se permanecer ao longo do tempo.


Em suma, como exemplifiquei na situação com os aplicativos de relacionamento, a não permanência das pessoas nas vidas umas das outras se deve a essa constante insatisfação e dessa busca vazia de algo perfeito inexistente no mundo. As pessoas se constroem no convívio com outras e, a partir daí, começam a ganhar sentido pelo simples pertencer no cotidiano do outro. Porém, se não pararmos para dar oportunidade a sermos surpreendidos, corremos o risco de estar em relações insatisfatórias por motivos fúteis, ao passo que também acabamos por magoar e destruir a autoestima de modo cíclico: a nossa e a de outros. Sejamos claros e objetivos no que queremos e, acima de tudo, procuremos nos permitir mais, nos preocupar mais e nos conectar mais para nos encontrarmos em relacionamentos que façam e deem sentido a nós. Entendam que relacionamentos saudáveis e duradouros não se constroem a a partir de um jogo de interesses ou de "quem é o melhor". Não adianta buscar o irreal, quando o real é muito mais estimulante e surpreendente do que imaginamos. E, sejamos felizes e façamos outras pessoas felizes. A vida deveria ser isso: felicidade mútua. De infelicidade já bastam os boletos todos os meses... Be good, be happy!







XOXO





FONTES DAS IMAGENS

https://www.buzzfeed.com/ramosaline/unbelievable-stories-of-betrayal

https://vippy.me/blog/quem-disse-que-nao-da-pra-encontrar-um-grande-amor-em-aplicativos-de-relacionamento/

https://anapolisnoticias.com.br/mulher-de-anapolis-descobre-que-fotos-de-seu-namorado-estava-sendo-usado-em-perfil-do-tinder/

Comentários

Postagens mais visitadas