Sobre os ossos dos mortos - Olga Tokarczuk (2021)

 By Cathy Scarlet



Livro: Sobre os ossos dos mortos
Autora: Olga Tokarczuk
Ano de Lançamento: 2009
Gênero: Romance, ficção contemporânea
País: Polônia
Editora: Todavia

Nota: 10


Em alguns momentos bate aquela tentação de experimentar algo novo, uma comida diferente, um lugar inusitado. No meu caso, quis escolher mais um livro aleatoriamente para comprar e me deparei com uma obra que me surpreendeu não apenas pela narrativa, mas pela abordagem assumida.

Primeiramente, vou falar um pouco sobre a autora: Olga Tokarczuk. Filha de professores, nasceu na Polônia, em 1962.  Porém, engana-se quem pensa que se trata apenas de uma escritora (embora, por si só, já seja uma profissão que exija da mente e do espírito um engajamento e uma inspiração tremendos): ela também é ativista, roteirista e intelectual. Até meados dos anos 90 atuou na área de psicoterapia, o que torna compreensível a articulação desta com seu afazer literário. Recebeu, em 2018, o prêmio Nobel de Literatura. Uma das características de sua escrita é o tom mítico a partir do qual discursa a respeito do aspecto social e a nossa perspectiva da realidade e da natureza.


Olga Tokarczuk


Discutirei aqui a respeito de seu romance (com uma pegada existencial), Sobre os ossos dos mortos, lançado em 2009. A história se passa no cenário rural de Kłodzko Valley, região cobrindo o sudoeste da Polônia e pegando uma parte da República Tcheca. Os acontecimentos giram em torno da Sra. Janina Dusheiko (que, a propósito, detesta ser chamada por seu nome de batismo) e de sua relação com os animais. Trata-se de uma senhora solitária (acabara de perder suas Meninas, suas cachorras) que ensina língua inglesa na cidade e atua como zeladora/cuidadora de algumas casas, cujos donos raramente aparecem. Vale mencionar seu fascínio por astrologia, não sendo apenas uma leiga, mas alguém que relaciona aspectos da vida com os astros e os mapas astrais pelos quais é fissurada. Seus amigos são Esquisito (seu vizinho), Dísio (com o qual divide sua paixão pela poesia de William Blake, sendo o título do livro baseado em um de seus poemas), Boros (um entomologista que se hospeda por um tempo em sua casa) e Boas Novas (funcionária de um brechó). Seus apelidos e de outros personagens são criados de acordo com algo representativo, sejam atitudes ou características fisionômicas.

Tudo começa com a morte de Pé Grande, morador e caçador da região. Avisada por Esquisito de que algo estava errado, pois a cachorra daquele latia sem parar, Dusheiko o acompanha e encontram o homem morto por conta de um osso de corça com o qual se engasgara. Logo, começou a especular que havia se tratado da vingança do companheiro do animal morto, cuja vingança culminara na morte do caçador. Lá, acaba encontrando uma fotografia que parece abalá-la e a guarda.

Aos poucos, outras mortes acontecem e a senhora continua apontando que os animais foram os responsáveis por tais infortúnios, como forma de retaliação pela ação cruel dos assassinados: Pé Grande, o Comandante, Víscero, o Presidente e Padre Farfalhar. Consequentemente, já que ela continua apostando nessa teoria e ainda a espalha para outras pessoas da cidade, seguida de cartas para a polícia e da relação de proximidade com as circunstâncias dos crimes, passa a ser considerada suspeita. 

Por sorte, Dusheiko tem o apoio dos amigos e acaba sendo solta antes do prazo legal estabelecido. No entanto, sua raiva pelos crimes cometidos contra os animais e o desprezo do padre em compreender a relação da natureza com a própria vida dos seres humanos, começam a fazer o receio das pessoas aumentar com relação a sua sanidade.

Em dado momento, Dísio faz uma descoberta que o deixa estarrecido. E junto dos demais amigos de Dusheiko, se deparam com uma revelação que os deixa ainda mais perplexos.

É uma obra que traz reflexões poderosas sobre a relação do homem com a natureza e daquele com o próprio mundo que o cerca. Acima de tudo, nos faz questionar sobre o limite que há entre justiça e vingança, principalmente por conta da narrativa pouco confiável em primeira pessoa.

Abaixo, elenco algumas das reflexões que considero fundamentais para a análise desta obra fascinante:


Ø  “De alguma forma as pessoas como ela, que dominam a escrita, costumam ser perigosas”. p. 54.

Ø   “É preciso falar às pessoas o que elas devem pensar. Não tenho outra saída. Do contrário, uma outra pessoa fará isso”. p. 144.

 

O primeiro trecho nos remete à ambiguidade do domínio da habilidade de escrita. Acima de tudo, interligada com letramento, constitui um elemento poderoso de persuasão e de mobilização de ação em conjunto com ideologias e fortes imagens que convencem o outro a ser, agir e existir de determinada forma no mundo.

Trata-se de uma ferramenta que pode nos levar a atitudes construtivas, porém tem sido usada para o contrário desde seus primórdios. Um exemplo atual são as fakes news, que mobilizam muitos a pensarem e adotarem modos de vida totalmente contrários a estudos científicos e sociais apenas por falas mal construídas ou ideias espalhadas de modo irresponsável pelos meios digitais.

Ter poder e saber manipular as palavras significa ter controle ou poder libertar as massas pela informação e/ou pela emoção.

 

Ø   “E que o mundo é uma grande rede, é um todo único, e não existe nada que esteja isolado. Cada fragmento do mundo, até o menor deles, está interligado com outros através de um complexo cosmos de correspondências (...)”. p. 59.

 

Tudo ao nosso redor tem um propósito e nada acontece sem que haja uma correlação com ações e suas consequências a curto ou longo prazos. Mesmo as menores ocorrências acabam nos fazendo considerar suas motivações e propósitos. No fim, nos deparamos com o fato de que coincidências são muito mais complexas e interligáveis do que pensamos. Isso se comprova na própria obra.

 

Ø  “Ela (a dor) me lembra, cruel, que sou composta de partículas de matéria que morrem a cada segundo”. p. 65.

 

Somos uma consequência da criação, mas não somos imortais. Tal constatação pode parecer óbvia, mas nem sempre agimos de modo a considerar tal fato. Muito pelo contrário: somos irracionais ao ponto de vivermos como se não houvesse amanhã, imprudentemente. No entanto, à nossa porta batem a idade e as intempéries advindas de nossas escolhas na vida.

 

Ø  “E talvez o próprio Blake, se estivesse vivo, diria, ao ver tudo isso, que ainda havia lugares no universo não tomados pela decadência, o mundo não virou do avesso e o Éden ainda existe. Ali o ser humano não age de acordo com as regras da razão, estúpidas e rígidas, mas segundo o coração e a intuição”. p. 82 e 83.

 

Embora nos deparemos com a finitude da existência e com o pessimismo dos dias e dos acontecimentos com os quais nos deparamos, vale sempre lembrar de se procurar o lado positivo da vida, das pessoas e dos lugares. Onde há guerra, também já foi um lugar bom de se viver. E que pode voltar a sê-lo. Mesmo aquele vizinho-peste, também é uma profundidade complexa de emoções e sonhos não revelados. O pior momento que vivemos não dura para sempre. Tudo e todos são aprendizados enriquecedores.

 

Ø  “Não suporto isso nas pessoas – essa ironia fria. É uma postura muito covarde; tudo pode ser ridicularizado, desrespeitado, não é preciso se envolver em nada ou estabelecer qualquer laço”. p. 87.

 

O pior lado das pessoas não tem a ver com seus defeitos, dos quais todos somos constituídos. Está, na verdade, relacionado com a nulidade do outro. A cada dia, vemos a pouca consideração e empatia em falas, comportamentos e posicionamentos que ignoram fatos, realidade e lugar social ao qual se pertence. Abraça-se um ideal identitário inexistente para jorrar preconceito, ódio e crueldade perante tudo e todos que não cedem ao que se anseia, a ideologias que pouco se compreendem e ao apadrinhamento, adoração de líderes religiosos ou políticos irresponsáveis, beirando a insanidade (coletiva, em alguns casos). Vejo nas redes sociais uma enxurrada de falas maldosas desejam morte, destruição e aniquilação do outro, de povos, raças... Também marcam a ignorância e falta de compreensão da realidade com a propagação de informações falsas e inverídicas das quais “ouviram falar”, mas nunca leram em nenhum livro didático.

 

Ø  “Pensei, então, que toda a morte provocada injustamente merece algum tipo de difusão pública. Até mesmo a morte de um inseto. Uma morte despercebida torna-se duplamente escandalosa”. p. 147.

 

Vários pensamentos aparecem ao longo da obra relacionados à morte. Este, em específico, nos faz considerar a importância da existência do organismo mais ordinário, pois constitui um todo crucial da existência dos seres vivos. Cada ser tem sua importância no grande ciclo vital ao qual estamos todos expostos e ao qual pertencemos. Consequentemente, quando vemos registros e mais registros de espécies em extinção podemos nos deparar mais concretamente na importância delas para ecossistemas, cadeias alimentares e até pela própria categoria animal a qual pertencera. Voltando para nós, cada um tem importância no universo, mesmo que por um breve período existencial. Leva-nos a compreender que a morte não pode ser banalizada ou colocada de lado por quaisquer razões. Cada perda reflete a dor que outros carregarão com mais intensidade, com a ausência que será sentida por muito tempo por quem amava aquele ser que pulsava, pensava, tinha sonhos e ansiava por coisas materiais e abstratas das quais nunca teremos acesso, mas que podemos imaginar. São as complexidades também existentes em cada um de nós e naqueles que nos rodeiam. Somos importantes, mesmo que as areias do tempo cubram traços da nossa passagem por estas terras.

 

Ø  “A presença de Boros me lembrou como era morar com alguém. E como isso pode ser constrangedor. E o quanto nos desvia de nossos próprios pensamentos e nos distrai. Como a outra pessoa começa a nos irritar não por fazer algo irritante, mas pelo simples fato de estar ali”. p. 150.

 

Conviver com as pessoas é uma tarefa árdua e cansativa, na maior parte do tempo. Não é por menos: opiniões divergem vez ou outra, as picuinhas começam a surgir, sentimentos incontroláveis (será?) afloram e fazem antever as entrâncias mais profundas da alma humana... Ou simplesmente porque socializar também se torna cansativo. A solidão torna-se uma premissa necessária à sanidade mental dos indivíduos que têm de conviver com as pessoas diariamente. É uma necessidade do corpo e da mente esse apartar-se do convívio para torná-lo mais saudável na retomada.

Quando vejo casais em pé de guerra, desgostosos da presença um do outro, compreendo ainda mais essa necessidade de espaço, algo mais difícil quando se vive sob o mesmo tempo. Ainda assim, deveria começar a fazer parte do cotidiano das famílias, principalmente. Desafoga, alivia o estresse da convivência constante e das atribulações individuais que acabam corroendo das relações com os azedumes, o descontar constante no outro das raivas do mundo. Espaço e solidão não são aspectos irrisórios ou desnecessários quando falamos de manter as relações mais leves e menos conflituosas. Evita mágoas estúpidas criadas por sentimentos que são puramente reflexo do desgaste ao qual nos mantemos sem pausa reflexiva.

 

Ø  “Para as pessoas de minha idade, os lugares que realmente amamos e aos quais um dia pertencemos já não estão mais lá”. p. 153.

 

A idade torna-se um peso quando pensamos naquilo que ficou para trás e nos mantemos fixos nesse passado enterrado.

Quando olhava para meu avô, com seus mais de noventa anos, ficava me perguntando como se sentia ao lembrar que muitos de seus amigos e conhecidos haviam já partido, que os lugares que ele conhecera ou no qual vivera já não deviam existir da maneira que conhecera, que muitos comportamentos e relações familiares modificaram-se de modo significativo (e, no caso da minha família, para extremos que podem ser comparados com conflitos bélicos conhecidos pela humanidade, até então). Nunca ousei verbalizar meus pensamentos com medo da reação dele, que já se ensimesmara nos últimos anos. No entanto, continuo me perguntando sem respostas concretas de sua parte. Apenas considero a mim como parâmetro a essas mudanças que vão nos assolando. A cada ano, a cada década, vamos nos despedindo de algo (metaforicamente ou não). Sejam de fases da vida, seja de um animal de estimação, seja de uma pessoa especial, sejam de lugares que fizeram parte de nossa infância, sejam de crenças sobre as pessoas ou coisas que nos cercam, sempre nos desfazemos da presença de algo ao qual nos vinculamos e que nos complementava. Nem sempre as despedidas são fáceis, mas deixam rastros de ensinamento e de amadurecimento em sua passagem por nossas psiques e emoções.

Apesar da constante, a velhice costuma trazer uma despedida ainda mais dolorosa: a de nós mesmos. Da nossa existência. O constituir-se no mundo é uma tarefa cheia de altos e baixos e, ainda assim, nos fortalece na possibilidade de um amanhã, na esperança de podermos construir uma nova história pela oportunidade que o novo dia traz. E mesmo que não sejamos eternos, nossa essência se eterniza nas lembranças daqueles que convivem conosco, em nossas palavras e condutas ao longo do caminho. Portanto, embora não possamos reaver o contato com aquilo ou quem se foi, ainda podemos ter a esperança de construir uma essência perene que traga orgulho e sorrisos nostálgicos para aqueles que ficam com uma parte de nós.

 

Ø  “Eu não conseguia deixar de pensar que aqueles que usam a palavra ‘verdade’, mentem”. p. 174.

Ø  “Aliás, acho que a psique humana se constituiu para nos incapacitar de enxergar a verdade”. p. 208.

 

O pior tolo é aquele que acredita piamente no que ouve sem se munir de informações que corrobore a dita “verdade”.

Somos criaturas crentes por natureza.  Contudo, como somos seguidos pelo contraditório existencial, também somos desconfiados. Só pela junção desses dois fatos podemos deduzir que nossa espécie é eximia em ir atras das informações. Embora até o seja em muitas circunstâncias, sinto que ultimamente tem faltado desse espírito aventureiro por fatos nas veias de muitos que ouvem e se calam, aceitando qualquer coisa como verdade absoluta. Hoje e cada vez mais me deparo com a dura realidade: nunca há um lado da mesma moeda nem nunca há apenas uma versão dos fatos.

Um dia disse aos meus alunos que a globalização nos permite montar um gigantesco quebra-cabeças de informações que vamos colhendo para formar o todo e, assim, compreender algo com maior precisão. Nem todos compreenderam minha analogia, mas é bem isso com o que lidamos: um monte de fontes que nos ajudam a chegar à tão ansiada verdade dos fatos. Entretanto, cabe a nós ir em busca disso e deixamos de lado uma certa preguiça que nos domina. A verdade dá trabalho. Por outro lado, a mentira se torna mais convidativa porque é encontrada em todos os lugares, sem o menor esforço.

 

Ø  “Já não existe natureza natural (...). Já é tarde demais. Os mecanismos naturais foram desequilibrados e agora é preciso manter tudo isso sob controle para evitar uma catástrofe”. Fala de Olho de Lobo, p. 181.

Ø  “Sabe, às vezes tenho a impressão de que vivemos num mundo que nós mesmos projetamos. Determinamos o que é bom e o que é ruim, desenhamos mapas de significados... E depois, durante a vida inteira, lutamos contra aquilo que concebemos”. p. 207.

 

Somos tolos por acreditarmos ter controle sobre aquilo que nos cerca. A natureza é um desses elementos incontroláveis que nós, seres humanos, temos a arrogância de achar sermos capazes de dominar. E cada vez mais nos deparamos com eventos que nos demonstram o contrário. A catástrofe, a meu ver, se dá quando o homem, ao tentar evitar a força monumental da natureza ou de submetê-la a sua vontade, ignora a própria fragilidade diante de exorbitância de tamanha façanha infrutífera. Somos parte de uma força sem controle, somos direcionados por circunstâncias que, muitas vezes, são resultado da própria ganância e desrespeito com os quais nos munimos por nos considerarmos seres racionais.

Na nossa racionalidade, agimos de modo irracional e irresponsável. Culpamos o universo, porém somos nós os causadores das moléstias, da degradação do meio ambiente, da extinção de espécies, das guerras, dos eventos climáticos de magnitudes desproporcionais... Criamos um sistema de culpabilização de terceiros e nunca arranjamos soluções para problemas que nós mesmos começamos, aos quais demos continuidade e que continuamos a alimentar por motivos torpes e mesquinhos. Enquanto não assumirmos a culpa pela derrocada ambiental e social, a degradação só tenderá a ampliar-se e a consumir a vida na Terra.

 

 

Ø  “Pela primeira vez estava numa prisão inteiramente material e foi uma experiência muito difícil”. p. 201.

Ø  “Não consegui me conformar que os policiais tivessem revistado minha casa e passei a sentir sua presença em toda parte...”. p. 203.

 

Quando falamos, por exemplo, sobre as ditaduras as reações são variadas. Chegamos ao ponto de negarem sua existência. No entanto, só quem vive com a ausência, quem tem sua liberdade cerceada, que tem seus direitos ameaçados, que vê sua família vigiada e refém do medo é que sabe o que foi uma ditadura. Só quem, de fato, leu os jornais, se informou podia relatar as atrocidades testemunhadas em alguns governos ditatoriais com mais afinco.

Atualmente, há uma tendência a atenuarem todos esses relatos, as histórias e a dor de quem perdeu parentes, amigos e a própria dignidade com as torturas e exílios forçados. Pior ainda é ler ou ouvir alguém chamar os que foram torturados de baderneiros, terroristas... Com tanta convicção que dá um arrepio pelo tenebroso caminho pela ignorância infundada. É uma inversão da história que me assusta. Assusta, principalmente, por parecer um hábito que está se arraigando na nossa sociedade. Onde foi parar a curiosidade, a reflexão e a contínua busca pela justiça? Jogamos pulpitos abaixo ou a enterramos em palanques eleitorais?

 

Ø  “Conduza seu arado sobre os ossos dos mortos...”. p. 213.

Ø  “É possível aceitar coisas banais que provocam apenas um desconforto, mas não uma crueldade sem sentido e onipresente”. p. 238.

 

Unindo-se ao ponto anterior, consideremos ainda a história como um norte para levarmos como um mote para a análise da obra. Quando nos deparamos com as nações, nessa constituição globalizada e globalizante circundando o mundo, também somos expostos a noção de progresso. Erroneamente vemos este termo empregado como aniquilação do passado, abandono das raízes que nos constituem. Avancem mesmo sob os corpos mutilados de nossos “inimigos”. Eis o tal progresso que vemos se instalando nas concepções de muitos líderes e em seus discursos de hegemonia.

A partir do momento em que a dor do outro nos passa desapercebida, em que consideramos uma morte mais triste do que outra, quando selecionamos mentalmente quem está certo ou errado em conflitos com muitas perdas humanas, temos de nos questionar se estamos passando um pano em cima da crueldade por princípios ideológicos que vão nos desumanizando. Temos de começar a refletir sobre nossas próprias concepções de realidade, humanidade, solidariedade e empatia. Não apenas com terceiros, mas em nossas próprias famílias. Quantas não vemos se desintegrando pela ganância, pela inveja, pela mágoa infundada? Passamos por cima de quem tem nosso sangue com uma facilidade monstruosa! Assim como puxamos o tapete e levantamos calúnia em prol de “se dar bem” no ambiente de trabalho. Nos compadecemos do sofrimento de uns, enquanto causamos a outros. Estendemos a mão a uns, enquanto chutamos quem mais sofre ao nosso lado. Se somos seletivos em momentos assim, que tipo de pessoa, de fato, somos? Que tipo de mundo estamos deixando de herança para as futuras gerações?

Por esses e outros pontos importantes, recomendo a leitura dessa obra polonesa. Que ela os faça refletir sobre essas e outras questões que nos ajudam a universalizar a importância de ser e sentir na nossa humanidade, imperfeita, porém real e em constante evolução (por favor!).

 

 

 

 

 

XOXO

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS:

https://www.nagroda-zulawskiego.pl/o-nagrodzie/laureaci/zlote-wyroznienie-2023-olga-tokarczuk-za-powiesc-empuzjon

https://en.wikipedia.org/wiki/Olga_Tokarczuk


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