Scarlett - Alexandra Ripley (1991)
By Cathy Scarlet
Livro: Scarlett
Autor: Alexandra Ripley
Autor: Alexandra Ripley
País: Estados Unidos
Ano de Lançamento: 1991
Gênero: Romance
Editora: Record
Nota: 8
Eu sou suspeita para falar, pois ADORO, ADOROOOO "E o vento levou", portanto, não deve ser surpreendente minha ansiedade em ler essa sequência de Alexandra Ripley (1934-2004), escritora americana que se incumbiu da tarefa de dar continuidade a história envolvente de Margaret Mitchell, com os personagens que bem conhecemos numa trama repleta descrições históricas e costumes de época. E quem é Alexandra Ripley? Nascida em Charleston (sim, a cidade do nosso querido Rhett Butler), Carolina do Sul, Ripley também é conhecida por seus romances históricos como Charleston de 1981 e Orleans Legacy de 1987. Sabendo desse background (contexto, circunstâncias, etc), nada nos surpreende as descrições presentes em "Scarlett", escrito em 1991, aparecendo, logo em seguida, nas telas, com sua adaptação de 1994.
A história se inicia de onde parou a de Mitchell: na morte de Melanie, esposa de Ashley Wilkes, antigo amor platônico de nossa protagonista Katie Scarlett O'Hara (ou apenas Scarlett O'Hara). Arrasada por tantas perdas, Scarlett procurava manter-se firme na promessa que fizera àquela que sempre fora sua amiga e apoiadora principal e cuidar do bem-estar do viúvo e de seu filho, ao mesmo tempo em que tentava pensar em formas de obter o marido, Rhett Butler, de volta. E, como sempre, Scarlett jamais dá o braço a torcer nem revela seus sentimentos, acabando por ser mal interpretada por essas lacunas morais numa sociedade baseada nas aparências. Deslocada, após organizar todos os negócios para ajudar Ashley, parte para Tara, propriedade de sua família, encontrando-a sem o mesmo esplendor de outrora, mas sob o comando de seu cunhado William, marido de Suellen, que jamais aceitaria um tostão dela. E, ainda por cima, parte de Tara havia sido dada por Careen como dote ao virar freira. Ao final de sua visita, já não se sentia mais em casa:
Tara não é mais o meu lar, por mais que eu a ame.
Ainda assim, disposta a não perder a terra tão amada pelo pai, recorre a seus artifícios para persuadir a madre a convencer o bispo. Sem sucesso.
Concomitantemente a isso, após uma frustrada passada em Atlanta, Scarlett ruma para Charleton, onde é recebida afetuosamente pela sogra, Eleanor Butler, recordando-se de sua própria falecida mãe. Comovida e, ao mesmo tempo, imbuída de determinação, Scarlett passa a morar com na residência dos Butlers para cercar o marido de todas as formas, até mesmo é introduzida na sociedade charletoniana, com seus moldes tradicionais e sem requintes, para mostrar ao marido sua disposição em tomar o lugar ao seu lado, abdicando de todas as coisas que a faziam a mulher de antes: seus modos, seus gostos, sua personalidade forte. Fracassa, pois Rhett a conhece bem e não se deixa reconquistar, oferecendo dinheiro para vê-la fora de sua vida. Scarlett aceita, certa de que conseguirá reconquistá-lo até o prazo estipulado. Acabam se envolvendo num acidente e, envolvido pelo alívio de vê-la sã e salva, Rhett se entrega à paixão. Porém, se a esposa pensava tê-lo reconquistado, viu seus planos destruídos ao saber de sua partida para Boston e uma carta falando sobre divórcio. Ainda na esperança de vê-lo correr atrás de si, viaja para Savannah com suas tias Pauline e Eulalie para ver o sisudo e desagradável avô Pierre Robillard.
Justamente em Savannah acaba conhecendo seus parentes do clã O'Hara, totalmente diferentes dos padrões sociais aos quais estava tão arraigada desde pequena. Fascina-se e, ao mesmo tempo, envergonha-se do modo de vida deles. Apenas com o tempo e com a convivência passa a adotar o modo leve e desprendido dos O'Hara, uma vez que ela "deixara de lado as suas pretensões de classe, sem notar que as abandonara":
Um vendedor de rua estava distribuindo limonada e bolinhos de coco a todos os O'Haras, começando pelas crianças ansiosas. Quando chegou a vez de Scarlett, ela aceitou com um sorriso, e deu uma mordida no bolinho. Ela estava comendo na rua! Nenhuma dama jamais faria isso, mesmo que estivesse morrendo de fome. (p. 443)
Durante sua estadia na casa de Maureen O'Hara, conhece Colum, seu primo e também padre, cujo lar era na Irlanda, terra natal de seu pai e onde morava sua avó paterna a velha Katie Scarlett O'Hara, de quem herdara o nome.
Desejando experimentar uma nova aventura, Scarlett parte para a terra de origem de sua família, abandonando a chance de se tornar única herdeira de seu avô (cuja condição estipulada a tornaria servil a ele até sua morte), ajudando o primo a esconder armas em sua bagagem para os fenianos, irlandeses que queriam lutar pela liberdade de seu país, expulsando os ingleses. Colum era um dos líderes da Sociedade Feniana, tentando sempre levantar recursos para a causa. Durante a viagem, Scarlett descobre-se grávida e maravilha-se com o fato, sabendo que Rhett adoraria a notícia de ser pai novamente, após terem perdido Bonnie.
Fascinada pela novidade e pela Irlanda, nossa protagonista decide passar um tempo por lá para conhecer o lar de seu pai. Mas, o fascínio deu de cara com a dura realidade: a Irlanda não pertencia ao seu povo e, sim, aos ingleses, cujo comportamento para com os irlandeses era degradante e cruel, humilhando-os com aquilo que mais os dignificava: a terra, o trabalho. Forçados a não possuir nada e a trabalhar para os senhores ingleses às custas de aluguéis injustos, apenas aqueles que "inglesavam" se davam ares de donos de terras, esquecendo-se de suas origens, como a prima Molly, irmã mais velha de Colum. Além disso, o modo de vida e as tradições da Irlanda a incomodavam por serem incompreensíveis a ela, como quando ouviu a prima falar calmamente da eminência da morte da avó:
Scarlett olhou aturdida para o rosto sereno de Kathleen. Como ela pode dizer coisas assim no mesmo tom com que conversa sobre o tempo ou outros assuntos amenos? E depois tomar o chá e comer o bolo com a maior calma do mundo?
Estou mais preocupada com a possibilidade de enlouquecer, pensou Scarlett ao partir. Colum tinha razão, os irlandeses vivem pensando em assombração. (...) E minha própria avó, já com uma mortalha pronta? (...) Essa coisa toda está me provocando calafrios.
Em determinado momento, recebe uma carta anunciando seu divórcio de Rhett por abandono e, posteriormente, descobre sobre o casamento dele com Anne Hampton, uma versão mais nova de Melanie. Abalada, mas determinada a recomeçar, Scarlett compra a terra que pertencera aos O'Haras, Ballyhara e, com o tempo, é reconhecida por todos como A O'Hara, sentindo engrandecida por reconstruir-se como uma nova Scarlett por seus próprios esforços. Pela primeira vez, sentiu-se reconhecida positivamente sendo apenas quem era:
É por isso que ser A O'Hara me faz sentir tão estranha e tão feliz ao mesmo tempo. É porque A O'Hara é respeitada pelas mesmas coisas que sempre pensei que eram perniciosas...
Porém, a terra mostra inóspita com seus costumes e superstições, principalmente, após o nascimento de Katie Colum O'Hara (Cat ou Kitty Cat), sua filha, cujo parto ocorrera justamente no dia das bruxas e fora realizada pela feiticeira da região, tornando-a uma criança amaldiçoada, pela visão dos irlandeses.
Enquanto Ballyhara crescia, o trabalho de Colum em manter os fenianos em segredo, também. Aconselhado, permitiu que a prima se mantivesse ocupada, decorando a Casa Grande e afastando-se da propriedade para ser parte da sociedade rica inglesa, mesmo contrariado. Ludibriada pelo glamour e por ver-se ainda mais admirada como mulher, Scarlet fica imersa naquela pompa das festas, apresentações sociais e, mesmo amando Rhett e sabendo-se correspondida, já que ele a segue até um dos bailes aos quais está presente, sente falta de uma presença masculina, já que Rhett estava perdido para sempre, mesmo que agora lhe despertasse a admiração por seu amadurecimento como pessoa. Dessa forma, deixa Lord Fenton se aproximar, acreditando ter achado o homem e o pai perfeito, contudo, seu sonho se esvai rapidamente: ele a queria apenas para gerar filhos como a forte e inteligente Cat.
Angustiado, Rhett a procura e, somente nesse momento, Scarlett se dá conta do grande amor que ele sempre sentiu por ela. Mas, os problemas estavam apenas começando, pois uma confusão ocorre em Ballyhara, expondo os fenianos e seu primo Colum, que acaba morto. Rhett, então, aparece e a salva como em Atlanta, quando a guerra eclodiu.
Diferenças com a versão da televisão de 1994? Muitas! Especialmente o destino de Scarlett, que não é acusada da morte de Fenton, como na adaptação para televisão. O livro deixa mais evidente a relação de amor entre Rhett e Scarlett, porém ambos perderam um pouco o rumo no final, correndo com as ações e atropelando certos acontecimentos, deixando-os sem explicação convincente. Apesar do meu desagrado com a conclusão, recomendo a leitura. Acredito que tenha sido uma válida contribuição literária para dar um desfecho merecido ao casal Scarlett e Rhett, porém, acima disso, uma tentativa de amadurecer a protagonista em seus anseios, determinações e valores, atribuindo-lhe condições de avançar em seus objetivos de modo sutil, aprendendo com os erros cometidos e reaprendendo a noção de amor, adquirida ao dar à luz a Cat. A obra tem outros pontos positivos, como as descrições bem feitas por Ripley e a continuidade de algumas características de personagens criados por Mitchel. Enfim, há momentos memoráveis e emocionantes dignos de serem lidos e compreendidos dentro dessa dimensão criada pela obra antecessora. A MUST!
XOXO
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