Na era dos amores descartáveis e efêmeros - PARTE 1
By Cathy Scarlet
Por que as pessoas não conseguem mais manter relacionamentos saudáveis e duradouros?
Após um looooongo tempo sem publicar nada, resolvi voltar com esse assunto que tem me deixado pensativa ultimamente (quase sempre, na verdade, mas isso é um detalhe pouco importante). Muitas pessoas "ostentam" o fato de estarem em um relacionamento sério, casadas, de aliança e tal, entretanto uma coisa que tem me incomodado é como essas coisas não significam nada para algumas pessoas. Já deixo claro que NÃO ESTOU GENERALIZANDO, afinal, há, sim, relacionamentos duradouros e verdadeiros que deixam a gente suspirando, desejando ter um igualzinho. Não estou dizendo que sejam perfeitos, contudo são aqueles em que o casal conseguiu ou consegue resolver os impasses, as discordâncias e mantêm-se unidos diante das adversidades, apoiando-se mutuamente. É uma meta de vida para muitos. A questão que fica aqui para debate inicial é: por que é tão difícil manter um relacionamento nesse nível de harmonia e companheirismo?
Uma coisa que tem me perturbado imensamente é a percepção de que algumas pessoas não sabem respeitar a individualidade do outro, tornando-se um dos fatores mais problemáticos em uma relação, e no qual pretendo me deter neste espaço. Imaginem os seguintes cenários:
CENÁRIO 1
Você está com seu namorado, passeando e aproveitando a companhia dele quando, de repente, um outro homem passa perto de você e já começa aquela cena de ciúmes sem propósito: pronto, lá se vai o encontro e lá se vai a vontade de continuá-lo porque seu namorado começa a questionar para onde você está olhando, se o estranho te conhece, se vocês já se relacionaram, se o estranho não se tocou de que está acompanhada, se a lua me traiu..., enfim, ele enlouquece totalmente, demonstrando uma insegurança desmedida e insensata. O aborrecimento domina o clima entre ambos, que fica denso, carregado de tensão.
CENÁRIO 2
Sua namorada e você estão conversando animadamente sobre suas atividades ao longo da semana. Tudo parece bem até que você menciona que sua amiga de infância, que é casada e que conhece toda a sua família há anos, e você foram almoçar no restaurante próximo à empresa em que trabalham. Sua namorada fecha a cara e te olha, fuzilante. Em seguida, começa a, cinicamente, dizer que pretende sair com os amigos homens dela também. No começo, você nem liga, pois é natural que ela possa sair com os amigos da mesma forma que tu, todavia, demonstra querer sair em outro sentido, frisando bem a palavra "amigos" para dar outra conotação. Você se aborrece sem entender a razão daquele tipo de desaforo. Does that make sense? Friendship has to be forgotten because you have a partner or a love interest? A amizade se torna um obstáculo para um relacionamento, se ela for saudável e sem pretensões?
CENÁRIO 3
Seu namorado super adooooora shows de rock, não falta a nenhum (haja money!). E insiste para que você vá com ele a esses eventos, porém não são sua praia: você não gosta, pois prefere eventos mais tranquilos, sem aglomerações nem tanto barulho. E você explica isso pacientemente, com calma e na boa, sem grosseria nem nada, apenas posicionando-se diante de um gosto exclusivamente seu. E isso acontece sem que se peça a ele para abdicar dessas atividades, pois é uma diversão dele que não lhe causa incômodo. Por outro lado, ele não aceita sua posição e insiste para que vá junto. Com a confirmação de sua negativa, se aborrece e passa a se afastar de você que, chateada, fica querendo ceder à vontade dele, mesmo sabendo que não será uma experiência prazerosa, dada a sua posição anterior.
CENÁRIO 4
Em uma reunião de família, sua namorada te apresenta como amigo aos familiares e amigos presentes porque, segundo ela, o relacionamento de vocês ainda está em fase de testes (trial). E isso há uns meses já! Você aceita, pois está gostando mesmo dela e não acha necessário impor rótulos a uma relação que tem transcorrido calmamente. Mas, nota que a mina não recua diante dos avanços de outros homens, até age como se se sentisse envaidecida deles, no entanto, fica aborrecida quando o mesmo acontece com relação a você por parte de outras mulheres, mesmo com a sua posição respeitosa e sem segundas intenções para com as demais. Sua namorada te cobra, te acusa e te faz sentir insuficiente, já que mesmo com as cobranças, não se posiciona diante dos outros para afirmar que está num relacionamento sério com alguém. Aparenta estar solteira e age dessa forma. Sua insegurança aflora e o auto-questionamento vem, constante: será que sou correspondido? Será que estou fazendo papel de bobo e sendo deixado em "banho-maria" enquanto ela conhece outros por fora ou avalia outras opções, nas minhas costas, mas me mantém por garantia? Ou será que não me considera bom o suficiente?
Nesse primeiro post sobre o tema, o que quero deixar sob questionamento é o fato de que não respeitar a individualidade do outro, sufocá-lo pelos medos e inseguranças que tem, tentar anulá-lo ou mostrar-se evasivo, ambíguo diante da recusa ou não do sentimento do outro, bem como da retribuição desse sentimento ou não é matar o respeito, o companheirismo e a harmonia que se espera das relações interpessoais, culminando, estas, em namoros, casamentos ou somente amizade. Estar com alguém é aceitar modos diferentes de agir e ver o mundo, de sentir e querer no mundo. É, principalmente, se não partilhar de gostos e ambições, mas desejar ver o outro bem e realizando aquilo que faz bem a ele, sem impor limites, querer limitar ou estender o limite do outro a algo indesejável a ele. Relacionar-se é perceber quando o outro quer e aceitar quando ele não quer, saber entender que o não querer é uma escolha e não uma rejeição a um envolvimento maior e mais profundo. Por isso muitos relacionamentos são mal sucedidos: as pessoas não se aceitam e não aceitam ao outro como é, nem seus gostos e modos de ser. Estão sempre colocando críticas em pauta, apontando defeitos e exigindo o máximo.
Não adianta olhar para si mesmo e suas próprias necessidades de maneira exclusiva quando se está num relacionamento (ou se pretende estar, obviamente), pois fazendo isso você se acha no direito de exigir do outro que olhe unicamente para você, se negue como ser detentor de vontades, aspirações e gostos, e realize seus desejos de maneira única e ilimitada, com a penalidade de ser abandonado, ignorado, julgado, rechaçado ou trocado, como a um objeto com defeito, algo imperfeito ou incompleto. Querer que o outro abdique se quem é para satisfazer os desejos de um parceiro é o mesmo que massacrar a individualidade, a subjetividade de cada um, a essência que carregamos em nosso ser. É uma destruição do que nos torna únicos no mundo para ser o mundo de alguém. Num relacionamento, ambos constroem um mundo, juntos, sem dependência, sem pressão, sem negação de individualidades mas, sim, uma troca de experiências, um vislumbre de novas coisas que se possam fazer juntos e dividir, um espaço onde cada um possa, também, agir conforme seus gostos, sem interferir nas vontades alheias e sem infringir limites pessoais ou morais e éticos. Relacionamento é saber aceitar, respeitar, compartilhar e permitir que o outro exista.
XOXO
Comentários
Postar um comentário