Ela (2013) - filme




By Cathy Scarlet


FICHA TÉCNICA BÁSICA:

Filme: Ela (Her)
Diretor: Spike Jonze
Ano: 2013
Duração: 126 minutos
País: Estados Unidos
Gênero: Drama romântico de ficção científica
Nota: 9


Ontem, selecionei este filme da minha lista da Netflix. Eu o tinha colocado lá mais por curiosidade do que qualquer outra coisa, afinal, li as críticas, vi as indicações a prêmios e sabia da história (por cima, claro). Não vou ser besta e dizer que achei que seria o máximo, que ia chorar horrores, por isso esperei tanto tempo pra assistir; na verdade, tinha poucas expectativas, mas coloquei porque temos que ver mesmo os filmes ruins para, justamente, comprovar o quanto são ruins. Porém me surpreendi imensamente.

Temos como personagem principal um escritor (Theodore) que trabalha numa empresa na qual as pessoas escrevem cartas pessoais para outras pessoas que não tem a habilidade/ capacidade/ vontade/ não sabem como fazê-lo elas mesmas. Além dele, há outros personagens não centrais como os colegas, que pouca influência têm nele, uma ex-esposa (da qual não consegue se divorciar legalmente por ainda se achar ligado a ela sentimentalmente), e uma blind-date (tipo aquelas pessoas de aplicativo de relacionamento) bizarra/não-bizarra que aparece na metade do filme. Antes de comentar sobre a outra personagem principal dessa trama, vale a pena mencionar alguns dados importantes sobre Theodore e os demais personagens em comparação a ele. O personagem, desde o primeiro momento em que aparece, dá a sensação de ser alguém muito solitário, triste (daqueles tristes que sorriem às vezes só por sorrir, como se o gesto não se transmitisse ao olhar, de fato. Mais por conveniência social) e melancólico, sempre nostálgico, relembrando o relacionamento com a ex, que havia acabado há quase um ano. Já seus colegas mais próximos também aparecem sob essa nuance apática, depressiva, cujos sorrisos também são sem alegria ou brilho. Amy, por exemplo, é uma personagem apagada, que não deixa transparecer nenhuma emoção demasiada.

Nesse cenário nostálgico-depressivo, surge Samantha, um sistema operacional que o protagonista adquire para servir de secretária, porém acaba assumindo um papel crucial na vida dele, que se apega demais a ela, descobrindo uma realidade difícil de se lidar por sua complexidade. Samantha é tudo de bom: eficiente, rápida, pró-ativa, engraçada, carinhosa, compreensiva, amiga, ávida por conhecimento, interessante... Tudo o que um homem solitário e vazio precisaria ter na vida para se sentir vivo. Não surpreende que o relacionamento dos dois se desenvolva de uma amizade suave para uma paixão/amor transcendente. Porém, como amar alguém que não se pode tocar? E essa questão parece tomar conta do protagonista conforme se vê diante do fato de que, embora Samantha seja um sistema operacional sedento de conhecimentos além de sua programação inicial, ela jamais assumiria uma forma física. 

De repente surgiu um questionamento meu: o que, realmente, representava o sentimento do Theodore pela Samatha? Quero dizer, no filme, ele acaba saindo com uma mulher (aquela bizarra/não-bizarra da qual falei anteriormente), até se interessou por ela, tinha rolado química em vários níveis (não apenas atração), mas quando a moça quis saber se ele queria algo sério, se não era apenas uma transa casual, aí o protagonista recuou. Não senti que foi pela rapidez com a qual a outra queria definir a relação ou o futuro da relação dos dois. No fundo, direcionar o amor a Samantha era mais fácil, mais leve (afinal, tratava-se de uma máquina que não traria todos os dramas complexos de uma relação padrão), evitando todos os percalços pelos quais havia passado com a ex, de quem relembrava durante o filme: os bons e suaves momentos, a amizade, o crescimento dos dois como seres humanos, as brigas e o posterior afastamento entre os dois culminando na separação. 

O filme parece ser uma grande alegoria dos relacionamentos atuais (falarei sobre aplicativos de relacionamento em outra oportunidade): no fundo, estamos sempre buscando "Samanthas" para evitarmos um relacionamento como o de Theodore com a ex-esposa Catherine (sim, esse era o nome da personagem): complexo, intenso, belo, mas com dramas, problemas, como tudo na vida. 

Conforme Theodore vai se deixando apaixonar, se torna mais dependente de Samantha, que transforma-se numa outra versão de relacionamento fracassado: ela se distancia, revela comunicar-se com outras pessoas e estar apaixonada por outros. Sem revelar o que acontece com Sam (carinhosamente), o que se observa é que tudo faz parte de um aprendizado maior: conhecer a si mesmo. E é uma jornada de auto conhecimento para Theodore e, como qualquer jornada, não é fácil, pois é um reconhecer-se doloroso. É  amando daquela maneira bizarra que conseguiu evoluir, mesmo que a duras penas: assina os papeis do divórcio, abre-se a um novo sentimento e a novas sensações, liberta-se do passado para, finalmente, conseguir seguir em frente para uma nova jornada.

Indico o filme por todas as demais mensagens que traz (e tem muitas!). É enriquecedor compreender que nossos vícios (amores, fixações, paranoias, etc), após serem superados, nos fazem refletir e nos libertam mais de quando apenas nos contentamos a repeti-los incessantemente. Evoluir é uma constante análise de nós mesmos.







XOXO

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