A Coisa - Stephen King (1986)



By Cathy Scarlet



FICHA TÉCNICA BÁSICA:

Livro: A Coisa (It)
Autor: Stephen King
País: Estados Unidos
Ano de lançamento: 1986
Gênero: Terror
Nota: 10


Esse livro foi, especialmente, um desafio para mim. Não pela extensão da obra (mais de mil páginas), mas pelo seu conteúdo. Não sei se é vergonha admitir: demorei mais de um ano (!!!! um milhão de exclamation points) para concluir sua leitura.

Primeiramente, vou contar uma breve introdução do meu amor (inicialmente, platônico) por essa obra. Desde pequena, já ouvia falar de Stephen King e do quanto ele era fera no gênero terror, mas, como não tinha internet na época e como muitas das minhas dúvidas esperava sanar por minha conta, achava que o Sr. King era diretor cinematográfico, já que muitas das obras dele acabaram virando filme e seu nome sempre aparecia na chamada deles na televisão. Acho que a primeira adaptação que vi dele foi O Iluminado, que é ótimo (!!!!!!!!), seguido por uma minissérie, que passou muitos anos atrás, chamada A Dança da Morte (que eu adorei assistir). Depois é que vim a descobrir que ele era um escritor (nenhuma grande emoção até aí, obviamente). Só quando estava na adolescência é que assisti ao filme It, lançado em 1990. Adorei! (uma mega carinha feliz e eufórica ficaria muito bem aqui -😃) E me deu uma imensa vontade de ler o livro, porque, claro, a maioria das obras são melhores ou mais ricas do que suas adaptações. Pedi de presente de Natal para minha mãe e, no Natal de 2015, fui presenteada com a recente edição da obra que foi originalmente escrita em 1986, três anos antes de eu entrar em produção (foi um leve gracejo).

Comecei a ler no começo de 2016. Entrei em choque de tão bom que era o livro.

Então, fica a indagação: por que essa desgraçada demorou mais de um ano para terminar um livro do qual gostou tanto? Medo de terminar e ter uma mega crise existencial? 

Na verdade, o livro tem um conteúdo tão complexo que não tinha como ler sem parar, como a gente geralmente faz com um livro de conteúdo leve, um gibi, um mangá... Ele mexe com um leitor mais sensível e, no meu caso, mexeu demais, pois, ao mesmo tempo em que aterroriza você pelas imagens assustadoras e tal-e-coisa, também faz você pensar e pensar sem parar em torno do que vai revelando diante dos seus olhos a cada frase, cada parágrafo, cada página. Ele deixa você estarrecido. É uma sensação incomensurável. A obra vai se revelando não apenas como algo ficcionalmente aterrorizante: ela está a nossa volta a todo instante. A gente sai de casa para trabalhar e It (A Coisa) pode estar lá. E, admito, pensar assim me assustou e me fez ler a conta-gotas, em doses homeopáticas.

Antes que vocês pensem "eita, essa tá doida", deixem-me contar bem resumidamente sobre o teor da obra, sem dar muitos spoilers desnecessários.

A trama tem como cenário a fictícia cidade de Derry, no Maine, onde coisas estranhas acontecem sem nenhuma explicação. As personagens principais começam a trajetória da narrativa ainda crianças, em 1957-1958: Bill, Ben, Bev (a única menina do grupo), Richie, Eddie, Mike e Stan. Todos, com exceção de Mike, deixam Derry após os fatídicos acontecimentos que os fazem achar que mataram a Coisa, retornando em 1984-1985 para concluir o serviço e acabar com as atrocidades do monstro que, diferente do que se pode pensar, não tem uma forma definida, embora sua forma de palhaço tenha sido a mais memorável, principalmente no filme.

Conforme se lê, observa-se que o monstro nada mais é do que as energias negativas das próprias pessoas, que surgiam a partir de crimes ou atos de: ódio, bullying, pedofilia, homofobia, racismo, medo, enfim, sentimentos que resultavam em ações/eventos negativos. A Coisa é um aglomerado de todas essas energias ruins que acabam por paralisar o indivíduos, encarcerando-os neles mesmos, tornando-os vítimas do que os próprios criaram. E essa constatação é que é assustadora. Deu pra entender por que demorei tanto tempo pra concluir a leitura desse livro? É tenso...

É uma leitura que não recomendaria a uma criança (SUPER ÓBVIO QUE NÃO!), por seu conteúdo muito forte e explícito. É necessário um pouco de preparo para se entrar nesse território Stepheniano (criei agora esse termo, acho), porque ele é mais do que aparenta e é um território onde não há suavizações, nem eufemismos. É uma obra hiperbólica, extrema que destrói sua concepção de realidade da maneira padronizada com a qual estamos acostumados. Entretanto, como em todo ambiente literário (não apenas, claro), tem algumas passagens muito bacanas, próprias da fase infantil nele representada, mas há uma que acabei lembrando de registrar:




Achei linda a passagem acima justamente por ser fruto do pensamento da personagem (Eddie) em sua fase pueril, na qual tudo é (deveria continuar a ser, atualmente) tão puro.

Eu poderia falar horas e horas a cerca desse livro, incessantemente, contudo uma das razões pela qual indico a leitura (para um público mais adolescente ou mais adulto) é justamente para fazê-los perceber que apenas nós podemos lutar contra nossos medos e vilanias da vida. As personagens crianças (e também em suas fases adultas) são nosso espírito combatente e ele existe dentro de cada um, aprisionado por medo ou por omissão; já as pessoas de Derry representam a omissão tomada como escudo: fecha-se os olhos diante do que é errado, para não correr o risco com o embate. Derry pode ser qualquer coisa: um lugar geográfico ou nosso interior, mas ela é real. Que Derry quero cultivar dentro de mim e em que Derry quero viver? Cabe a reflexão.









XOXO




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