Responsabilidade emocional na atualidade
By Cathy Scarlet
Não raro é termos algum amigo ou conhecido relatando suas desventuras, amorosas ou não (mas não sejamos ingênuos porque o lance amoroso predomina, nessas circunstâncias) nas quais sofreu por conta de atitudes inexplicáveis de terceiros, que simplesmente ignoraram completamente seus sentimentos e agiram impensadamente, massacrando tais relações sem pestanejar. Quem nunca viu ou teve conhecimento de alguém que vive num relacionamento abusivo, vendo sua individualidade completamente ignorada e, seus anseios, frustrados porque o parceiro não cede, não dialoga, não se desvincula, não toma vergonha na cara, não sai do armário, não faz uma terapia, não assume que sua parceira também é um ser humano com expectativas, sonhos, vontades, paixões e que deveria ser considerada com mais empatia?
Exagero? Porque exagero mesmo... Nãããããão, quem dera fosse!
Estamos em pleno século XXI, onde as relações se estabelecem virtualmente, de caráter pessoal ou profissional e, embora facilite o contato, a troca, justamente por esse motivo, mas não apenas por ele, acaba, portanto, trazendo outros aspectos negativos dessa proximidade... Nem sempre exclusiva, pois não estamos mais nos satisfazendo com algo único, singular. Estamos voláteis, volúveis e tais características deturparam nossas possibilidades de estabelecer laços ou laços duradouros e saudáveis, sermos empáticos com os demais que nos cercam ou que apenas existem sem o estabelecimento de contato físico, nos importarmos com os dores, os receios e as angústias, respeitarmos as trajetórias, histórias, momentos... Não é fácil, pois quanto maior nossa rede de contatos, maiores são os "dramas" cotidianos nela envolvidos, mais problematizadas são as demandas dialógicas presentes nessas relações, porém faz parte da heterogeneidade de indivíduos no universo. Cada ser carrega em si inúmeras facetas que o torna peculiar num mundo vasto... E mesmo assim, é como se o mundo não o comportasse (ok, estou entrando num outro tema! Empolguei-me...).
Bom, bem-vindos à discussão sobre responsabilidade emocional e toda a problemática concernente à ela num mundo onde as relações andam banalizadas a tal ponto que não nos enxergamos sozinhos, não conseguimos ter uma percepção adequada dos outros que nos cercam e, principalmente, temos encontrado dificuldades tremendas em proteger a nós mesmos dessa enxurrada de informações que levam a mudanças drásticas de atitudes, posturas e estigmatizam as relações entre as pessoas, causando severas rupturas entre aquilo que desejamos efetivamente e aquilo que nos é apresentado na sociedade como possibilidade: pessoas doentes emocionalmente, buscando curar suas feridas com outras que não as entendem ou tão feridas quanto, ou que buscam ferir quem quer que seja, para tentar amenizar a dor ou o buraco existencial gigantesco assolando-a. Lógico, ambos movimentos acabam, muitas vezes, ocorrendo involuntariamente, mas demandam uma sobrecarga emocional danosa para o nosso psicológico e que acaba refletindo no nosso físico, inclusive na nossa saúde. Não estamos imunes a nada nessa vida, menos ainda a influência do outro sobre nós.
O primeiro grande ponto é notarmos quão descartáveis temos nos tornado na sociedade globalizada e capitalista. Somos apenas um número para as estatísticas: no trabalho, nas catracas do ônibus, do metrô, do trem, ao batermos ponto no trabalho, no caixa de supermercado, etc. Contudo, sabe o que mais me assusta e assombra? É perceber que somos vistos da mesma forma nas nossas relações interpessoais, nas nossas famílias, nos grupos de amigos, para aquele companheiro de vida... Somos apenas mais um e outros são apenas mais um para nós, salvo raras exceções daqueles privilegiados de serem tidos como importantes. Eles têm rostos. Os outros, não. Os selecionados têm nome. Os demais são meros desconhecidos na massa homogênea daqueles que são "tanto faz" para nós. Nesta massa estão quem efetivamente não conhecemos, aqueles que passaram por nós e aqueles que "jogamos fora" no grande jogo de importância ou dos importantes. Analisamos. Selecionamos. Sondamos. Descartamos.
Há uma frase bem célebre da obra de Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe, que mexe muito comigo e que reflete bem o impacto de responsabilidade nossa sobre as pessoas e vice-versa:
O segundo ponto é: nos espaços sociais que frequentamos ou acessamos, estamos cativando pessoas, estabelecendo relações por meio de afinidades, contratos implícitos, aproximações "tendenciosas", enfim... Ou seja, estamos causando impacto no outro e sofremos o mesmo efeito (ou algum efeito), em contrapartida. E, normalmente, o impacto gera inúmeras sensações, emoções ou expectativas. São raros os casos em que o outro é recebido de modo impassível, apático ou indiferente quando houve mobilização de aproximação ou convívio. O impasse se dá quando os problemas, atritos ou quaisquer outras coisas se interpõem e mudam o efeito causado pelo outro, atenuando ou eliminando a impressão positiva inicial. Nossa tendência ora tende ao afastamento, ora tende à tentativa de aniquilação da subjetividade do outro (é aí que surgem casos de assédio moral, por exemplo). Somos (ou nos tornamos?) seres que não lidam com conflitos, pois não queremos solucioná-los, não queremos abraçar dores, anseios ou saberes, nem novos modos de ser, tampouco novas abordagens, novos pontos de vistas que batem contra os nossos. Dificilmente aceitamos o novo, já que nos causa estranheza, escárnio, deboche, asco, talvez. Somos, mais e mais, condicionados a rejeitar o estranho, aquilo que nos perturba, que nos faz pensar ou repensar quem somos e como agimos. Não somos muito adeptos de mudanças. E tudo bem! Não há nada tão errado nisso, na maioria das vezes.
Sabe onde está o erro? Leve quiz!
A - no Trump
B - no Bolsonaro
C - em não considerar os sentimentos do outro
Essa foi difícil, eu sei! Entretanto, a alternativa correta é a C (sempre tendenciosa para o meu lado, claro!).
Não nos responsabilizamos pelo outro, emocionalmente. Sabemos criticá-lo, rechaçá-lo, humilhá-lo, desprezá-lo... Porém pouco nos importamos em atenuar quando nossas atitudes se modificam, independentemente da razão, não somos capazes de dialogar, de expor fatos para explicar nossas mudanças de atitude, nossa ausência, nosso distanciamento, a pouca importância que damos a planos, sonhos que não nos dizem respeito... Só vamos embora, só agimos de maneira negativa e destrutiva, só humilhamos, só ignoramos, só deixamos de conversar... Simples assim. Não há dramas, nesse sentido.
E o outro?
É o lado menos importante quando a empatia não faz parte das relações com as quais estamos acostumados a lidar. A tendência egoísta e de relações multifacetadas, em todos os sentidos, faz com que tenhamos uma imensa dificuldade em enxergar além de nossas próprias necessidades e desejos efêmeros e imediatistas, principalmente quando nos vemos cercados de novas informações, tendências e pessoas fluídas, que não permanecem, mas que acabam desviando a atenção, desestruturam relações anteriormente estabelecidas, iniciadas e criam uma barreira entre vínculos já feitos, ou simplesmente passam por eles como um trator destrutivo...
O terceiro ponto é que não jogamos limpo. Somos manipuladores. Sujos. Cruéis. Mentirosos. Intuito? Obter aquilo que queremos. E para tal, agimos sem escrúpulos. Um homem quer levar uma mulher para a cama e, para alcançar seu objetivo, se faz passar de homem de família, de amigo compreensivo, demonstra idolatria ferrenha por ela, MAS, APENAS ATÉ TER O QUE QUER. Uma colega no trabalho se mostra a amiga mais leal, mais preocupada e até o ajuda com problemas familiares, ATÉ PASSAR A PERNA EM VOCÊ e roubar sua promoção. Aquela garota do colégio que se aproxima do colega de classe, estabelece um vínculo forte, ATÉ ARRANJAR "OUTRO MELHOR".
Vamos juntar tudo isso? Claro que poderia acrescentar inúmeros pontos, mas sou de humanas e, quanto mais números, mais a chance de a conta não fechar (piada de humanas = risos de humanas):
Pessoas descartáveis + habilidade de cativar + jogo interpessoal obscuro = pessoas emocionalmente doentes, dos dois lados, sem exclusividade de posição.
Como resolver tamanha questão, dada sua complexidade? Reformular as pessoas seria uma boa, contudo, não sendo possível, vale considerar (ou tentar, pois a mente humana é de difícil direcionamento, bem o sei) o exercício constante de uma mobilização equilibrada entre razão e emoção, não se deixando gerir mais por nenhuma das duas, mas conviver com ambas de modo saudável. Assim, nem a emoção determinará de modo tão impactante o resultado frustrante gerado por pessoas sem empatia, nem seremos indiferentes, pois acredito que precisamos fazer a diferença, positivamente, num mundo onde as sementes de emoções caem constantemente em solos infrutíferos ou de pedregulhos, nada brota ou, se brota, não vinga.
E o que dizer para aquelas pessoas cujas empatia está defeituosa? 'Bora fazer um exercício reflexivo: quem você decepcionou recentemente? Quem você ignorou repentinamente, sem explicação? Quem você humilhou, desprezou ou a quem causou algum momento negativo para fazer valer sua vontade? Pensou? Ótimo! Tem como aliviar o "carma"? Resolva! Não custa nada abaixar a cabeça e desculpar-se, ajeitar as coisas, estender a mão, oferecer um pouco do seu tempo, enfim, ter uma postura humanizada. A vida é curta para mantermos bagagem pesada sobre nós.
XOXO
FONTES DAS IMAGENS
https://tudoparahomens.com.br/qual-a-sua-influencia-no-outro/amp/
https://br.pinterest.com/pin/27584616455932559/
http://www.paginarevista.com.br/noticia/responsabilidade-emocional/4380
https://www.qwerty.com.br/2020/07/25/qwerty-editorial-nao-estara-faltando-empatia-ao-pedritense/
Excelentes reflexões, amei.
ResponderExcluirCatarina amei ,você está muito acertiva em suas considerações e até me ajudou a reflexão.Parabens . Adorei.
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