Maria Magdalena (2018-2019) - Série

By Cathy Scarlet

FICHA TÉCNICA:

Série: Maria Magdalena
Criadores: Lina Uribe, Darío Vanegas, Jaqueline Vargas
Diretores: Felipe Cano, Rodrigo Lalinde
Ano: 2018 a 2019
Duração: 60 episódios
País: México
Gênero: Biográfico, Religioso

Nota: 10

Esta série não se baseia apenas na trajetória de Maria Magdalena, cuja história é sempre rodeada de mistério, contudo demonstra como sua figura acaba por cruzar o caminho de outros nomes importantes do Segundo Testamento da Bíblia. Uma das mulheres mais presentes na saga de Jesus como propagador da Palavra e do amor e da misericórdia divinos, ela nos é delineada nesta série de sessenta episódios, muito bem amarrados nas passagens da Bíblia e nela encontrando ramificações lógicas para inserir personagens verossímeis dentro da trama, para nos contar sobre a personagem que lhe dá nome e nos mostrar uma dimensão grandiosa da missão daquele que era conhecido como  o Messias e que encheu os corações dos apóstolos e seguidores de esperança e da mensagem de amor fraterno.

A história começa com o casamento de Maria Magdalena com Ur, homem de comportamento machista e abusivo. Por não poder gerar filhos, o marido acaba por pegar uma concubina, que tampouco lhe gera o filho varão tão desejado. Insatisfeito, sua atitude com as mulheres da casa é ainda mais violenta e opressiva. A protagonista, então, se vê num dilema e, com a ajuda da influência do pai, deseja divorciar-se para se ver livre daquela vida. Porém, o pai é morto por Ur, levando-a a fugir ao ver-se cativa de um homem cuja ambição por seus bens era gigantesca (ela era de uma família possuidora de terras, não se tratava de una mulher pobre e sem condições). 

Na fuga, dá de cara com Caio Valério, general romano que, curioso pela figura misteriosa e desconhecida, leva-a consigo como sua escrava. Durante a convivência, começa a percebê-la uma mulher estudada e inteligente, além de dedicada e uma paixão nasce entre ambos e ele promete torná-la sua esposa. Porém, sem o conhecimento dela, o general já estava comprometido com a sobrinha do imperador romano Tibério, Cláudia. 

Outra a não saber do compromisso é Herodíade, esposa de Herodes (que nutre uma paixão incestuosa pela sobrinha, filha de seu irmão, cuja mulher tomou para si), mãe de Salomé e que deseja o casamento da filha com o general. Equivocadamente, pensa ser Maria Magdalena o empecilho para a realização de seus planos e se une ao marido desta para eliminá-la de seu caminho. E, no dia do aniversário do rei Herodes, acaba por planejar um estratagema triplo: manda a filha pedir a cabeça do profeta João Batista, primo de Jesus, numa bandeja de prata com a promessa de libertar Jair, serviçal e amante da filha; captura Maria Magdalena, que está completamente desprotegida pela partida de Caio Valério e, por Tribuno Emílio, subordinado do general, encontrar-se numa perseguição interna a Lázaro, primo da protagonista, e a dois serviçais que o estavam auxiliando. 

De volta aos braços cruéis de Ur, Maria Magdalena é levada a um prostíbulo e forçada (até mesmo drogada) a se prostituir, a mando de Herodíade, aliada de seu marido. Provando a injustiça de teer sido colocada naquele lugar contra sua vontade, já que não tinha feito coisa alguma, consegue fugir, ajudada pela esposa do cafetão e, no seu caminho, surge Jesus, que lhe oferece ajuda. Desconfiada e já sem esperanças, Maria Magdalena recusa, porém ao vê-lo realizar um milagre, acaba acreditando nele e Jesus a exorciza, libertando-a do mal que a dominava.

Grata, Maria Magdalena fica ao seu lado, mesmo desagradando a outras mulheres e a Pedro, apóstolo de Jesus, pelo seu passado. E, justamente por conta da posição justa e visando se libertar de tradições retrógradas da sociedade da época, Jesus dá espaço a ela, incentivando-a a ensinar o que sabia aos apóstolos e a outras pessoas, impressionado por vê-la como uma mulher conhecedora das Escrituras. 

E, enquanto a história de Jesus é contada conjuntamente com a dela, a figura de Maria Magdalena toma forma diante de nós, não sendo apenas uma seguidora, mas uma mulher de determinação, lealdade e sentimentos nobres. Embora tenha se apaixonado por Jesus, se torna sua discípula por um sentimento maior e mais sublime, sendo leal e seguindo-o até seu derradeiro fim no Calvário, ao lado de Maria, sua mãe, de Joana, esposa de Lázaro, e de Marta, irmã deste, antes comprometida com Barrabás, porém acaba descobrindo que ele se casou com outra por dinheiro.

Destaco os intensos episódios da Paixão de Jesus, cuja carga emocional é profunda e de inegável poder de transmitir o quanto aquele ato de sacrifício serve para demonstrar um imenso amor, mesmo com o abandono de seus apóstolos, da ingratidão das pessoas a quem curou ou salvou, da tristeza pela rejeição e pela zombaria cruel dos romanos e de seu próprio povo, Jesus se mostra fiel aos planos de Deus e Nele confia até o fim. E, mesmo após sua morte, ressuscita no terceiro dia, também permanecendo fiel a promessa feita aos seus discípulos que, mesmo não crendo como Maria Magdalena, acabam percebendo a concretização de todos os planos do Mestre. 

Quanto a Maria Magdalena, a vemos se tornar uma propagadora da Palavra e dos ensinamentos de Jesus, aceita pelos apóstolos como uma igual, tão merecedora quanto eles de sair e evangelizar em nome de quem salvou a todos e lhes ensinou a amar, ter misericórdia e a propagar a verdade acima de tudo. 

Esta adaptação é rica em detalhes e nos presenteia com uma versão emocionante daquela que pouco aparece, de quem pouco sabemos ou conhecemos. Maria Magdalena ganha vida diante de nossos olhos como uma mulher a frente de seu tempo, não submissa à condição marginal dada às mulheres e não aceitando ser um objeto de homens machistas e cruéis, partindo para uma missão maior do que ela poderia imaginar, da qual as pessoas não a consideravam digna até perceberem a grandeza contida naquela antes chamada de prostituta por uma impiedosa injustiça engendrada pela vingança de uma rainha leviana e de um marido cujo ego fora ferido por sua rejeição e força de espírito de uma esposa a quem não podia dominar nem destruir. A protagonista se torna exemplo decisivo e inegável de que paradigmas podem ser rompidos, principalmente se mantêm as pessoas imersas em pensamentos e ações que as fazem ser preconceituosas e machistas, justificando crueldades e ideias descabidas. Maria Magdalena é exemplo de que um ser humano pode e deve ser dono de seu próprio destino e de si mesmo.

XOXO