Agnes Grey - Anne Brontë (1847)


By Cathy Scarlet





FICHA TÉCNICA:


Livro: Agnes Grey
Autora: Anne Brontë
País: Reino Unido
Ano de Lançamento: 1847
Gênero: romance vitoriano, romance de formação, drama
Nota: 9



A família Brontë é notadamente reconhecida pela criatividade literária inerente aos membros dela, principalmente por conta das três irmãs: Charlotte, Emily e Anne. No entanto, a última nunca teve tanto destaque em comparação às demais, embora sua produção literária esteja começando a despertar o interesse de críticos por conta da curiosidade peculiar ao quão autobiográfico suas obras possam parecer, já que é aparente a utilização de sua experiência como governanta para a construção dos personagens de sua obra e, além disso, há uma maior necessidade de compreender profundamente o mundo da jovem Anne Brontë para podermos perceber a dimensão criativa na qual estava inserida.

Esta obra clássica, escrita pela irmã Brontë mais nova, Anne, traz características interessantes para o período no qual surgiu, a Era Vitoriana, marcada pelo avanço tecnológico e de expansão política, porém houve uma maior rigidez na moral e nos costumes, levando ao surgimento de uma literatura com traços típicos dos manuais sobre comportamento, boas maneiras, modos de falar, etc, ditando o certo e o errado no modo de agir das pessoas, contudo, estamos falando do século XIX, assim sendo,  não podemos correr o risco de analisarmos sua matéria de modo estritamente contemporâneo, embora tenha alguns temas que possamos trazer para a atualidade. 

A história é centrada na personagem Agnes Grey, que dá nome a obra, narrando em primeira pessoa todos os acontecimentos, bem como sua trajetória em busca de conhecer a si mesma fora do âmbito familiar, super protetor e reduzido para suas expectativas. Filha de um clérigo do norte da Inglaterra, Richard Grey e, de Alice Grey, filha de um proprietário de terras que, por ser contra seu casamento com um homem simples, a deserdou. Do relacionamento, nasceram Mary e Agnes. Ao ver que o pai perdera todo dinheiro aplicado perdido num naufrágio, decide arrumar uma ocupação e compartilha com eles seus planos. Protetores e preocupados com o destino da caçula da casa longe do seio familiar, ambos, junto com a filha mais velha, titubeiam em deixá-la seguir com seu intento de tornar-se preceptora em casa de desconhecidos. Contudo, vendo-a resoluta em seus desígnios, concedem. 

Assim, Agnes parte para sua primeira experiência como preceptora, por recomendação de sua tia Grey, na propriedade Wellwood House de posse do Sr. e da Srª Bloomfield (fria, apática e de atitude permissiva para com os filhos). Lá conhece os filhos do casal: Tom (dominador e com instintos cruéis, estimulados pela família, principalmente pelo tio), por quem a mãe parecia ter predileção;  Mary Ann (de comportamento artificial e desejosa de ser notada),  ambos de temperamento rebelde; Fanny, falsamente meiga e tão dissimulada quanto os dois mais velhos, além de mentirosa e; a mais nova de dois anos, Harriet. Além dos dos pais das crianças, havia ainda a presença da avó Srª Bloomfield, da qual a nora era desafeta e que colocava o filho contra Agnes, agia como uma pessoa desejosa de ser elogiada e, quando não o fazia, voltava-se contra a pessoa, mostrando-se hipócrita e aduladora, "uma espiã de minhas palavras e atos", como disse nossa protagonista no Capítulo IV - A AVÓ (p. 70). Por ver-se incapaz de bajulá-la, pois era atentar contra seus princípios, Agnes via-se como alvo constante das injúrias contra si engendradas pela idosa. Além da senhora, ainda havia o irmão da patroa, Roberson, que estimulava as atitudes e os comportamentos negativos das crianças, principalmente dos dois mais velhos: incentivava o lado cruel do sobrinho para com os animais e, com relação a Mary Ann, sua sobrinha favorita, encorajava sua afetação, tratando a preceptora com arrogância. No mesmo capítulo em que o personagem aparece, a narradora diz:

"Tudo o que havia de errado, nela e no irmão, ele incentivava com risos, quando não com elogios: as pessoas não percebem o mal que fazem às crianças quando riem  dos seus erros e fazem blague [piada, graça] do que os verdadeiros amigos destas se esforçaram para lhes ensinaram a manter em total desprezo". [Capítulo V - O TIO, p. 78]

Neste trecho, observamos um aspecto interessante: apesar da formalidade de Agnes e das dificuldades encontradas na casa dos Bloomfields, se coloca como "amiga" das crianças, especialmente por tentar incutir nelas os valores éticos e morais que os adultos da casa parecem ignorar estarem desincentivando com atitudes permissivas, culpabilizando a preceptora pelas atitudes condenáveis dos filhos, que esta não sabia como controlar, uma vez que tinha sua autoridade negada pelos próprios patrões, que priorizavam o divertimento e prazer dos filhos em detrimento aos deveres e obrigações, deixando ao encargo de Agnes a tarefa de arcar com a responsabilidade alheia pelos desvios comportamentais estimulados pelas únicas autoridades a quem as crianças reconheciam como válidas. Isso fica claro quando nos relata:

"(...) à infelicidade de ser responsabilizado pela assistência e orientação de um grupo de rebeldes perversos e turbulentos, e cujos esforços mais inteligentes não conseguem obrigá-los ao dever; enquanto, ao mesmo tempo, é responsável também pela conduta desse grupo perante um poder mais alto, que obtém o que não pode ser conquistado sem a interferência da autoridade superior; e que ou por indolência ou pelo medo de se tornar impopular diante daquele grupo rebelde, se recusa a oferecer ajuda". [CAPÍTULO IV - A AVÓ, p. 65-66]

Ou seja, a jovem encontrava-se em um beco sem saída, pois apesar de todos os esforços, não conseguia atingir resultados satisfatórios com seus pupilos e, ao mesmo tempo, via-se sob julgamento daqueles que a contrataram, mas que não deram aos filhos o acompanhamento adequado como responsáveis principais. No entanto, a infelicidade de Agnes naquela casa dura pouco, pois a mãe das crianças a dispensa e seu retorno ao lar se antecipa, não sem visíveis consequências a sua saúde física e emocional. Engana, todavia, que isso a desestimularia: Agnes decide arranjar outro emprego como preceptora. Assim, aceita a oferta de trabalhar para a família Murray, na propriedade Horton Lodge.

Esperançosa, parte para se instalar e conhecer os novos pupilos, de mais idade que os primeiros, porém cujos pais não possuíam atitudes mais adequadas do que seus patrões anteriores: o Sr. Murray era "um nobre rural turbulento e fanfarrão", distante do cotidiano familiar e, a Srª Murray, apesar de "bela e espirituosa de quarenta anos", era fútil e também displicente na educação dos filhos, preferindo zelar pelo "bem-estar" dos filhos (sub-entenda a ideia de agradá-los e não aborrecê-los com tarefas maçantes ou que os desagradassem, tornando tudo muito "suave" para os delicados sentidos deles - sim, foi uma ironia. Eles nada tinham de delicados, sob muitos aspectos) e pela continuidade da superficialidade das filhas. Outra fala que demonstra a posição inferior de Agnes é:

"(...) a Srª Murray nunca mencionava meu bem-estar". [CAPÍTULO VII - HORTON LODGE, p. 103]

Os pupilos eram quatro: John, Charles, Matilda e Rosalie. Embora, enfrentasse situações complicadas com os quatro membros sob seus desígnios, a quem os ensinamentos nada significavam, Agnes demonstra uma preocupação maior pela mais velha, Srta. Murray (Rosalie), sobre a qual diz:

"(...) nunca lhe tinham ensinado corretamente a distinção entre o certo e o errado; (...) tivera desde a infância permissão para tiranizar babás, preceptoras e criados; nunca havia aprendido a moderar seus desejos, a controlar o temperamento ou refrear a vontade, ou a sacrificar o próprio prazer pelo bem de outros. (...) Sua mente nunca fora cultivada; seu intelecto, na melhor das hipóteses, era um tanto raso...". [CAPÍTULO VII - HORTON LODGE, p. 104]

Isso explica o modo leviano da jovem, mais adiante, pois, já mais velha, começa a atrair-se pelo sexo oposto e, sendo uma linda jovem, acaba atraindo vários olhares masculinos. Envaidecida, Rosalie acaba flertando com o máximo dos seus pretendentes, atitude condenada numa época conservadora, na qual as jovens tinham que zelar não apenas pelos costumes, mas também por suas reputações na sociedade, independentemente da classe, visando garantir um bom casamento ou relações dignas para a família.

Ainda neste mesmo capítulo, a preceptora nos enfatiza como o tratamento dos patrões e dos jovens pupilos para com ela determina o tratamento recebido por outros criados da casa:

"Os criados, vendo a pouca estima com que a preceptora era tida tanto pelos pais como pelos filhos, regulavam seu comportamento no mesmo padrão. (...) negligenciavam por completo o meu conforto, desprezavam os meus pedidos e faziam pouco caso de minhas ordens. (...) corrompidos pelo descaso e pelo mau exemplo dos que estão acima...". [p. 112]

Isso, como em qualquer situação em que a pessoa se encontre em circunstância semelhante a da personagem, desvalorizada e culpabilizada diante da má conduta de terceiros, acaba por romper com as esperanças mantidas por Agnes de que as coisas viriam a ser melhores, pois já passara por uma situação de difícil aprendizado pessoal:

"Às vezes eu me sentia degradada pela vida que levava, e envergonhada por me submeter a tantas indignidades". [p. 112]

Estimulada pela mãe a casar-se com Thomas Ashby para se tornar a dona da propriedade Ashby Park, Rosalie, porém acaba aceitando flertes de admiradores antes de comprometer-se, como é o caso do reitor Sr. Hatfield, cujo comportamento não é abalizado pela justeza de um homem propagador da palavra de Deus, sendo arrogante, esnobe e cruel. Não satisfeita com seus séquito de admiradores leais, a filha mais velha coloca os olhos no novo cura (pastor, clérigo), Edward Weston, por estar com ciúme de Agnes, a quem o homem fazia referência com frequência nos breves encontros com a jovem. Por conta de perceber um interesse mútuo, Rosalie procura afastá-los e se aproximar do outro com insistência, chegando até a denegrir a imagem de Agnes para atrair a atenção do homem sobre si. Mesmo incomodada pela postura da pupila, a jovem preceptora apenas clama a Deus para que Weston não caia na lábia da jovem, principalmente por notar nele qualidades que o diferenciavam de todos os demais personagens masculinos fora da esfera familiar da moça, achando-o digno e benevolente demais (principalmente para com os mais necessitados da comunidade) para ser iludido pela pupila irresponsável aos seus cuidados. 

Rosalie acaba por casar-se com Thomas Ashby e, no dia do casamento e da partida da jovem de Horton Lodge, a narradora nos presenteia com o último momento entre ambas ao despedirem-se como preceptora e pupila, antes de receber notícias de que o pai não estava bem, obrigando-a a retornar para casa:

"Ela me deu um beijo apressado e já ia embora correndo, mas voltou de repente, me abraçou com mais afeto do que eu julgava capaz de mostrar e partiu com lágrimas nos olhos. Pobre menina! Eu a amei realmente naquele momento, e perdoei de todo coração os males que me causara; ela não sabia nem da metade deles, eu tinha certeza; orei a Deus para perdoá-la também". [CAPÍTULO XVIII - ALEGRIA E LUTO, p. 216]

Sua chegada ao lar é tardia: o pai falecera. Diante dos novos acontecimentos em sua vida, Agnes decide abandonar seu trabalho para trabalhar junto da mãe numa escola montada por ambas, recusando a ajuda de Mary, que se casara com o pastor Richardson. Antes do reencontro com Weston (tão aguardado por meses!), Agnes reencontra-se com sua antiga pupila, Rosalie, agora com uma filha recém-nascida e dona da encantadora propriedade Ashby Park, mas nada feliz, pois seu casamento mostrara-se insatisfatório, com um marido ausente, indiferente, ciumento e infiel. A antiga preceptora a encontra mudada...

" (...) com um prazer sem afetação (...) esforçou-se para tornar minha visita agradável" [CAPÍTULO XXII - A VISITA, p. 250]

...Contudo, não mais madura ou sensata, comprovado quando, ao falar da filha, Rosalie afirma, categoricamente e com certa amargura:

"(...) Que prazer eu poderei ter em ver uma menina crescer para me eclipsar e desfrutar de todos os prazeres que estão para sempre fora de meu alcance?" [CAPÍTULO XXIII - O PARQUE, p. 264]

Ou seja, Rosalie é a figura usada em comparação contrária a Agnes: dada a sua conduta, a vida recompensou-a com um casamento infeliz, que retirara de suas mãos todo o prazer da juventude não comedida, relegando-a a uma vida de riqueza vazia, nem preenchida pela filha, a quem possivelmente veria como rival de tudo aquilo apreciado pela jovem quando solteira.

Agnes retorna e, num passeio matinal, reencontra-se com seu interesse amoroso, cuja atitude para manter-se constantemente presente na vida da jovem acaba por reavivar suas esperanças. Disso vale apontar a respeito do interesse de Weston por Agnes o seguinte: é sutil (por isso ela não o notou, acreditando não ser correspondida em seu amor), suave e demonstrado em pequenos gestos de afeto e cuidado: dar prímulas a ela, protegê-la da chuva ao saírem da igreja, dar uma das flores mencionadas por ela, demonstrando atenção as conversas dos dois, ao resgatar o cachorro cuidado por Agnes desde filhote e dado por Matilda a um caçador... Enfim, o cura acaba despertando a afeição amorosa da preceptora por preocupar-se com ela como nenhuma outra pessoa havia feito desde que resolvera aventurar-se longe dos olhares da família e por elevar-se diante dela por suas qualidades superiores em comparação às demais figuras masculinas, excluindo a paterna. Porém, a grande revelação de interesse mútuo se dá no final, onde Agnes Grey é recompensada com um bom casamento e uma vida feliz por sua conduta moral e por manter os bons costumes da época sem corromper-se ou às suas virtudes de moça de família, zelando pelo bem-estar dos outros. E, justamente isso explica Agnes Grey ser um romance de formação, ensinando o comportamento para levar uma boa moça a conquistar um bom casamento, objetivo principal de uma jovem no período vitoriano.

Por que recomendo a obra? Bom, não apenas pelo fato de ter sido escrito por uma Brontë, pois tal motivação seria deveras banal para a riqueza perceptível na leitura de um clássico injustamente pouco lembrado, comentado ou levado em consideração pelos críticos. Embora não seja um livro de enredo avassalador ou de emoções a nos fazer verter em lágrimas abundantes e copiosas, ainda assim, suas sutilezas acabam se mostrando mais intensas e densas do que uma leitura ingênua daria conta, num primeiro momento. Lógico que cada um verá um viés mais agradável a seu gosto pessoal, porém a história, narrada em primeira pessoa, nos apresenta diversos temas para apreciação e que se destacam sem maiores clamores, dando a dimensão da produção da caçula dos Brontë e destacando-a como uma escritora comedida, porém não menos interessante e eloquente, uma vez que o drama construído por Anne é quase gracioso em comparação aos estilos das irmãs, porém não menos revelador ou de menor força temática (embora, admito, o final tenha deixado um pouco a desejar, como se precisasse de uma fala a mais ou um desfecho mais lírico ou com mais cara de "the end". Pelo menos, eu esperava algo a mais, uma conclusão mais ao merecimento de Agnes Grey como uma protagonista virtuosa e que sofrera tantos infortúnios na busca de si mesma, sem se deixar abalar ou de manter a mesma conduta diante dos elementos externos aos conhecidos no meio da família, deixada para trás, mas não abandonada, para propiciar o crescimento pessoal da narradora-personagem). 

Como disse antes, não podemos analisar a obra com os mesmos paradigmas do século XXI. Contudo, algumas questões se destacaram:


PAIS E PROFESSORES 
OU 
PAIS Vs. PROFESSORES?


Agnes é preceptora, ou seja, a ela é dada a responsabilidade de educar, ensinar jovens, cujos pais não estão cientes da (ou não ligam para a) responsabilidade de efetivamente participar da educação moral, ética e emocional de seus filhos, relegando-os a terceiros a quem, contudo, não dão pleno poder de ação. Isso parece compreensível e de direito, mas não lógico, dadas os atenuantes diante de nós, não apenas na obra, mas nada realidade enfrentada por muitos professores em diversas escolas pelo país (não citarei MUNDO, pois há lugares em que a Educação é diferenciada por conta de políticas governamentais mais eficazes e não fantasiosas como no nosso país): se um pai deseja que seu filho seja ensinado e, ao mesmo tempo, que demonstre um comportamento digno, racional e "evoluído" sem querer "perder tempo" ou envolver-se diretamente, como retirar de quem vai educá-lo o direito de ter autoridade sobre o aluno? 

É uma questão que gera debate, mas pretendo fugir dele e me atentar ao seguinte: a grande maioria dos professores, embora gostem/amem/adorem a profissão, estão se sentindo desmotivados, desvalorizados e vivendo em situação de degradação social por conta de várias questões, porém, e digo isso por ser o meu caso e, acredito, o de outros colegas da área, a conduta dos alunos é a pior delas, pois nos vemos diante de um cenário onde os alunos têm diversos direitos, mas não cobrados de deveres ou obrigações, podem fazer o que quiserem sem sofrerem sanções, destroem patrimônio público e não pagam por isso, desrespeitam ou ofendem/agridem professores e funcionários dentro das escolas e os pais acham que se trata apenas de uma "fase rebelde", de "incompreensão por parte dos professores" e justificam isso de diversas formas: aulas desestimulantes, material, excesso de tarefas, tensão, cobranças sem fim, etc, como se a criança ou o jovem não pudessem ser frustrados ou devessem realizar suas vontades num ambiente onde estão sendo preparados para a vida, para o mercado de trabalho... Se os pais e a sociedade procuram justificar e incentivar comportamentos negativos dos alunos baseados no que quer que seja, estão apenas criando seres humanos que se tornarão ainda mais insuportáveis, insatisfeitos, rebeldes, arrogantes e cheios de si, sem o ser de fato. 

Acredito que os pais e responsáveis devam ver os professores como parceiros na educação de crianças e jovens, pois é justamente isso o que somos: parceiros. Nosso trabalho não existe sem a parceria bem-sucedida com os pais, responsáveis e a comunidade. Nos tornamos UM em prol de proporcionar o melhor a essa juventude, perdida no excesso de tecnologia que não sabem administrar ou controlar seus anseios e falsas liberdades num mundo que pretensamente oferece tudo a ele, mas não esclarece o preço dessa falsa esfera de conforto e auto-satisfação. Se houver o comprometimento e respaldo de todos para o trabalho realizado pelos educadores em sala de aula, muita coisa pode ser mudada positivamente. Basta boa vontade e o entendimento de que não colocar limites, mostrar certo e errado, ensinar boas maneiras e maneiras gentis de tratar os outros é lesionar a juventude de modo irreparável e, infelizmente, permanente. Isso, embora reforcemos em sala, cabe aos pais, pois os filhos os reconhecem como principal autoridade. Se não o fazem, menos ainda farão conosco longe dos olhares críticos dos progenitores. 


TRATAMENTO AOS ANIMAIS & CARÁTER


Em Agnes Grey, não raro, vemos cenas descritas de maus tratos aos animais e, a narradora traz uma relação bem forte dos maus tratos ao caráter das personagens. Exagero dela? Pessoalmente, acho que não.

Os animais são as criaturas simbolizam o lado mais frágil da narrativa, pior ainda do que as pessoas mais humildes, também tratadas com descaso, negligencia e desaforo, porém não com violência, cuja força é totalmente jogada contra os animais (pássaros, gatos, cachorros...), como se fossem meros marionetes para amansar tendências cruéis que não poderiam ser dirigidas às pessoas. Dois casos de crueldade animal se destacam (negativamente, claro): o do menino Tom Bloomfield, que é incentivado pelo tio a matar pássaros de formas cruéis e, o Reverendo Sr. Hatfield, que chuta a gata de Nancy Brown com violência quando o animal se aproxima dele. Os dois exemplos se relacionam intrinsecamente a conduta deles: Tom é descomedido e mimado, acostumado a fazer o que bem entende e a comandar aqueles que julga inferiores; o pouco caso do Sr. Hatfield com a gata é o mesmo demonstrado por ele com os mais pobres, frequentadores de sua igreja.

Por outro lado, embora haja esses exemplo péssimos de maus tratos, também aparecem seus opostos nas personagens da própria Agnes e de Weston, valorizando e intensificando a virtude de suas personagens dentro da trama: ambos tratam os animais com carinho e cuidado  e, esses mesmos cuidado e carinho dispensam a família e demais pessoas que os rodeiam.


RESPONSABILIDADE EMOCIONAL & MERECIMENTO PESSOAL


Quando a autora faz um contraponto entre Rosalie e Agnes é para, justamente, deixar claro como o comportamento de cada uma delas se torna preponderante para a recompensa final merecida. 

Rosalie, embora linda e cheia de admiradores apaixonados, acaba num casamento frustrado e infeliz. Ao passo que Agnes, sentindo-se inferior em beleza e graça, se comparada a pupila, termina feliz com um homem virtuoso e digno, mesmo tendo passado por infortúnios desagradáveis antes de ter seu "felizes para sempre". E, embora haja uma preocupação da narradora com as aparências externas de uma pessoa, fica-nos claro que o principal motivo de um desfecho feliz ou triste está intrinsecamente relacionado com o modo de ser de ambas as personagens. 

Mesmo que não possamos considerar Rosalie uma vilã, no estrito sentido do termo, não podemos considerá-la digna de premiação porque agiu de modo a não se preocupar com o bem-estar das pessoas ao redor dela: tratou seus pretendentes com arrogância e iludiu-os, fazendo-os crer serem correspondidos e, ao final, desprezou-os para casar com um mais rico. Por sua vez, Agnes manteve-se austera e não demonstrava abertamente seus sentimentos por Edward Weston, que acaba virando alvo da pupila, sedenta por mostrar-se mais desejável do que a mestra. Ao fim, fica provado que a vida, em alguns momentos, pode nos presentear com aquilo que semeamos: o bem ou o mais; a recompensa ou o fardo.

Isso pode parecer piegas e, em alguns casos, "nada a ver", "não faz sentido", basta pensarmos o seguinte: não devemos fazer aos outros o que não queremos para nós mesmos. Tal frase, clichê, claro, mas não menos verdadeira, serve para todos, em todos os lugares e em diversas ocasiões. Bem como serve para Rosalie e Agnes, a primeira não soube colocar esse aprendizado em prática; a segunda, enfrentou o pior, mas não pagou na mesma moeda, preferindo ser leal aos ensinamentos aprendidos. E, embora Rosalie seja fruto de pais pouco preocupados com sua virtude moral, não foi poupada no retorno que cabe a quem não age de modo correto, principalmente, irresponsável com relação aos sentimentos dos outros, por pura satisfação ao ego. E, ao redor do mundo, quantas pessoas não agem como Rosalie, sem pensar nos sentimentos das pessoas? Quantas não incentivam, entusiasmam, iludem os outros para depois, simplesmente, zombarem dos sentimentos despertados neles? Infelizmente, os casos são inúmeros e infindáveis: as pessoas se auto satisfazem com a dor causada pela desilusão sofrida por outras pessoas.

E, mesmo não ocorrendo uma reviravolta como a apresentada na obra, acredito plenamente no fato de recebermos uma recompensa por todos os nossos atos. A principal recompensa de quem não age de modo a não se importar com o próximo, a debochar, humilhar, ludibriar e destruir o outro é poder dormir com a consciência tranquila e com a certeza de poder ser melhor a cada dia. A bondade não é um item desnecessário e, espero, que não entre em extinção. O mundo precisa de mais pessoas boas e que façam o bem aos outros.












XOXO





Comentários

Postagens mais visitadas