Onde está Segunda? (2017) - Filme
By Cathy Scarlet
FICHA TÉCNICA BÁSICA:
Filme: Onde está Segunda? (What happened to Monday?)
Diretor: Tommy Wirkola
Ano: 2017
Duração: 124 minutos
País: Estados Unidos
Gênero: Thriller de ficção científica distópica
Nota: 8
XOXO
Uma coisa de que gosto muito em um filme é quando ele me surpreende de maneira positiva. E, nesse original da Netflix, fui tremendamente surpreendida pelas séries de eventos ocorridos com essas sete irmãs idênticas na aparência, porém tão diferentes em personalidade.
Só para situar a trama em pontos gerais: em um futuro no qual há escassez de alimentos pela imensa população da Terra, que continua crescendo à níveis elevados, foram criados alimentos geneticamente modificados para solucionar o impasse, contudo, esses mesmos alimentos ocasionaram gestações de bebês múltiplos. Surgiu, então, um programa governamental no qual, famílias com mais de um bebê, teriam que dar os "excedentes" (tirando os primogênitos - primeiros filhos nascidos) para serem colocados para dormir e só despertos quando a população mundial diminuísse, denominada Lei da Alocação Infantil, criada pela conservadora política Nicolette Cayman (a maravilhosa e sempre diva Glenn Close).
Nesse ínterim (sinônimo de intervalo, período, durante), nascem as sétuplas (relativo ao numeral sete) filhas de Karen Settman, filha de Terrence (interpretado pelo talentoso e estupendo Willem Dafoe), que resolve cuidar das netas após a mãe morrer durante o parto, mesmo sob o risco de serem pegos. Ele as nomeia como os dias da semana (Segunda, Terça, Quarta, Quinta, Sexta, Sábado e Domingo) e as treina para desenvolverem suas habilidades e serem como uma única pessoa, dando a elas o nome da falecida filha, que soa mais como o nome de uma corporação secreta, já que ninguém poderia desconfiar do arranjo que o avô fizera para mantê-las ao seu lado. E para que o plano desse resultados positivos, ele transformou a casa em que viviam em uma fortaleza monitorada e instituiu que elas só sairiam no dia correspondente ao nome delas. E uma delas, Sexta, se diferenciava das outras por ser aquela que não realizava o trabalho braçal das irmãs, ficando mais com a parte de cálculos e estratégias envolvendo localização e proteção do esconderijo. Já Segunda é o exemplo, como o avô apontava, devendo esta ser como um molde para as demais no aspecto de conduta. Temos também as outras: Terça é mais insegura, Quinta é a típica justiceira habilidosa, Sábado é a falsa periguete que guarda segredos quanto ao seu estilo de vida, Quarta é a menos feminina do grupo e aquela que acha que o plano do governo de fazer os irmãos excedentes dormirem positivo, mas acaba aprendendo muitas coisas durante a trama, e Domingo é a mais crédula das irmãs, a que está mais intimamente ligada à ideia utópica de família.
Já adultas e, sem o avô (que deve, aparentemente, ter falecido também), continuam no mesmo esquema engendrado (tecido, elaborado, idealizado) por ele, porém fica evidente que o laço de sangue entre as irmãs é tênue, marcado por conflitos entre as distintas personalidades, sendo que Segunda parece ser a mais fria dentre todas.
No entanto, a ação começa justamente com o sumiço dela, deixando as irmãs preocupadas. Terça, então, tenta seguir os passos da irmã para solucionar o mistério, indo parar ela própria nas mãos de seus algozes, que vão atrás das demais. O primeiro combate acaba com Domingo morta nos braços de Quarta. Sua morte me pareceu bem simbólica: a morte das utopias. Quinta é a próxima a procurar por respostas e vai atrás do colega de trabalho invejoso Jerry, que revela que as irmãs só conseguiram a promoção após envio de milhões de uma delas para a campanha à candidatura de Cayman. Na fuga dos agentes mandados por Cayman, que havia descoberto a existência delas, Quinta morre. Em seguida, após receber em sua casa a visita do oficial Adrian, que aparenta conhecer uma delas, Sábado vai até a casa dele para baixar informações do sistema no qual o agente trabalhava e acaba tendo sua primeira vez com ele, descobrindo, posteriormente, que Segunda era a irmã com quem o homem se relacionava. Cercada pelos agentes, Sábado acaba sendo morta antes de dizer que amava às irmãs.
No entanto, a ação começa justamente com o sumiço dela, deixando as irmãs preocupadas. Terça, então, tenta seguir os passos da irmã para solucionar o mistério, indo parar ela própria nas mãos de seus algozes, que vão atrás das demais. O primeiro combate acaba com Domingo morta nos braços de Quarta. Sua morte me pareceu bem simbólica: a morte das utopias. Quinta é a próxima a procurar por respostas e vai atrás do colega de trabalho invejoso Jerry, que revela que as irmãs só conseguiram a promoção após envio de milhões de uma delas para a campanha à candidatura de Cayman. Na fuga dos agentes mandados por Cayman, que havia descoberto a existência delas, Quinta morre. Em seguida, após receber em sua casa a visita do oficial Adrian, que aparenta conhecer uma delas, Sábado vai até a casa dele para baixar informações do sistema no qual o agente trabalhava e acaba tendo sua primeira vez com ele, descobrindo, posteriormente, que Segunda era a irmã com quem o homem se relacionava. Cercada pelos agentes, Sábado acaba sendo morta antes de dizer que amava às irmãs.
Restando só Quarta e Sexta, ambas começam a fugir ao perceberem que logo seriam apanhadas também. Quarta desce as escadas da incêndio e acha que Sexta está vindo logo atrás, porém esta sobe as escadas novamente e volta para baixar os arquivos pessoais para o bracelete da irmã e, ao mesmo tempo, armar uma armadilha mortal para os agentes e, consequentemente, para ela também. Ao ver a explosão do apartamento, Quarta desaba e chora, mas percebe que sua missão é resgatar Terça e achar o paradeiro de Segunda. Ela infiltra-se no carro de Adrian, que pensa que Karen morreu ao ver o corpo carbonizado de Sexta e o surpreende, contando-lhe seu plano de resgate. O agente, então, a leva para dentro do laboratório no qual as crianças eram supostamente postas para dormir e Quarta descobre, com horror, que elas, na verdade, eram cremadas vivas, apenas adormecidas por um sonífero nelas injetado instantes antes de pegarem fogo dentro das câmaras nas quais deveriam adormecer, como aparecia nas propagandas do governo, revelando que tudo não passava de uma grande mentira. Lá dentro, resgata Terça e descobre que Segunda foi a responsável por entregá-las ao governo para ser a única Karen Settman. No confronto entre as irmãs, Segunda leva um tiro de Quarta e, posteriormente, a verdade sobre as ações de Cayman são reveladas em público, que acaba presa e sob risco de pena de morte. No fim, as duas irmãs sobreviventes aparecem, Terça resolve adotar o nome de Terry e Quarta adota o nome que a seguiu a vida toda: Karen Settman. Ambas com a ajuda de Adrian conseguem parar com a Lei de Alocação Infantil.
Nessa realidade distópica ou antiutópica vemos um mundo longe da imagem positiva que poderíamos preferir. Antes de mais nada, o que é DISTOPIA ou ANTIUTOPIA?
Primeiramente, O QUE É UTOPIA?
Utopia é um termo que surgiu com Sir Thomas More em 1516 em um livro com o mesmo nome, que remete a ideia grega de um lugar positivamente idealizado, usado para marcar sua visão de uma sociedade ideal. Portanto, DISTOPIA ou ANTIUTOPIA apresenta-se como o contrário: um lugar nada ideal, no qual reinam os vícios típicos das sociedades modernas: pobreza, desconfiança, política de estado opressora, etc. A literatura distópica, segundo o professor de literatura inglesa do Arkansas, M. Keith Booker (1994), é usada para "providenciar novas perspectivas sobre a problemática social e práticas políticas que, de outra forma, poderiam ser tomadas como certas ou consideradas naturais e inevitáveis". Ao extrapolar elementos contemporâneos, aquilo que é distopicamente criado serve como aviso aos atuais paradigmas da atualidade, fazendo-nos refletir sobre eles de maneira crítica.
Desta forma, este é um filme que te prende do começo ao fim pela criatividade com que vários temas são abordados e nos fazem refletir de maneira crítica sobre diversos tópicos. Antes de qualquer coisa, vou apontar o que não gostei na trama: não gostei do foco narrativo parecer deter-se em apenas algumas das sete irmãs, deixando as demais de lado ou sutilmente delineadas, ao ponto de não sabermos definir quem são em essência, como é o caso de Domingo e Terça, que são definidas de maneira bem ofuscada em comparação com outras das irmãs, que dominam a narrativa de maneira quase que total e exclusiva. Os resultados disso são que algumas dessas personagens ficaram muito planas, outras não tiveram uma delineação de personalidade que as diferenciassem das demais, e outro é pela não definição do caráter delas, principalmente o de Segunda, que não deu para perceber a razão por detrás de sua traição às irmãs nem se ela se arrepende ou não no final. Outro ponto que não gostei são as lacunas históricas deixadas em suspenso, como o fim que teve o avô das meninas.
Utopia é um termo que surgiu com Sir Thomas More em 1516 em um livro com o mesmo nome, que remete a ideia grega de um lugar positivamente idealizado, usado para marcar sua visão de uma sociedade ideal. Portanto, DISTOPIA ou ANTIUTOPIA apresenta-se como o contrário: um lugar nada ideal, no qual reinam os vícios típicos das sociedades modernas: pobreza, desconfiança, política de estado opressora, etc. A literatura distópica, segundo o professor de literatura inglesa do Arkansas, M. Keith Booker (1994), é usada para "providenciar novas perspectivas sobre a problemática social e práticas políticas que, de outra forma, poderiam ser tomadas como certas ou consideradas naturais e inevitáveis". Ao extrapolar elementos contemporâneos, aquilo que é distopicamente criado serve como aviso aos atuais paradigmas da atualidade, fazendo-nos refletir sobre eles de maneira crítica.
Desta forma, este é um filme que te prende do começo ao fim pela criatividade com que vários temas são abordados e nos fazem refletir de maneira crítica sobre diversos tópicos. Antes de qualquer coisa, vou apontar o que não gostei na trama: não gostei do foco narrativo parecer deter-se em apenas algumas das sete irmãs, deixando as demais de lado ou sutilmente delineadas, ao ponto de não sabermos definir quem são em essência, como é o caso de Domingo e Terça, que são definidas de maneira bem ofuscada em comparação com outras das irmãs, que dominam a narrativa de maneira quase que total e exclusiva. Os resultados disso são que algumas dessas personagens ficaram muito planas, outras não tiveram uma delineação de personalidade que as diferenciassem das demais, e outro é pela não definição do caráter delas, principalmente o de Segunda, que não deu para perceber a razão por detrás de sua traição às irmãs nem se ela se arrepende ou não no final. Outro ponto que não gostei são as lacunas históricas deixadas em suspenso, como o fim que teve o avô das meninas.
Contudo, tirando esses aspectos negativos essenciais percebidos, a trama é muito interessante, principalmente pelos temas incutidos nela. Os que mais chamaram minha atenção foram:
RELACIONAMENTO ENTRE IRMÃOS: Para quem os tem, sabe que nem sempre é fácil lidar com as diferentes formas de ser, ou de ver o mundo, ou lidar com as mudanças que ocorrem da infância para as demais fases, principalmente a adulta, um momento em que muitas relações familiares se estreitam ou se rompem de vez. No início da trama, vemos as irmãs adultas imersas em marasmo e conflitos levemente velados (outros aparentes, como o não vínculo familiar, tendo a imposição do avô como único elo relativamente existente entre todas - ainda que frágil, e as diferenças latentes entre elas). No transcorrer da história, temos algumas digressões da infância delas, nas quais vemos o avô tentando criá-las como mini guerreiras habilidosas em manter uma aparência una, mas não vemos o desenrolar sentimental entre elas, embora vejamos certas demonstrações de sentimentos do avô para com as sétuplas, não temos claro a posição emocional delas para com Terrence. E, isso também é algo corriqueiro na atualidade: o difícil acesso às emoções dos outros, ou o difícil aprofundar das emoções familiares. Nunca é fácil lidar com as emoções, pois trata-se de um terreno pantanoso repleto de questões ocultas, como conflitos não revelados, mágoas, ciúmes, inveja. Tudo isso vira uma imensa bola de neve quando nos tornamos adultos, pois acabam ou nos definindo como indivíduos, ou definindo nossos sentimentos em relação àqueles que nos cercam. Às vezes criamos vilões nas nossas vidas pela simples falta de diálogos cotidianos com nossos familiares. Mas, uma das relações que se destroem imensamente quando isso ocorre é a entre irmãos, que passam não apenas a não se entender como a rivalizar entre si, ao ponto de "apreciarem" a raiva que mantém entre si, ou a eterna competição, à qual dão manutenção, ao invés de, simplesmente, serem quem são, sem máscaras ou julgamentos.
QUESTÕES POLÍTICAS: O filme mostra claramente como a política continua suja e enganosa no futuro, coisa que já é no nosso presente, continuando um passado já deturpado de fins realmente engajados naquilo que é voltado para o bem do coletivo, que é do povo. No início, podemos pensar que os programas para reestruturar a produção de alimentos e de diminuir a população são bem intencionados e planejados de maneira humana e equilibrada, porém, quando essas intenções são colocadas aos nossos olhos de outra maneira, nos vemos diante de um outro quadro: uma mulher ambiciosa que não mede esforços para atingir seus objetivos (sempre visíveis pelos índices, que nada mais indicam do que metas frias), mesmo que para isso tenha que recorrer ao lado emocional de uma situação complicada, que ocorriam pela falta de estrutura decorrente dos elevados índices populacionais, cuja solução não é nada mais do que o massacre (assassínio em massa) de crianças. Quantas outras decisões o governo não toma e que vão contra valores essenciais da humanidade para atingir fins puramente políticos e econômicos? Ou, pior ainda, para atingir fins puramente pessoais?
APARÊNCIAS E STATUS: Irmãs tão diferentes entre si só poderiam gerar conflitos no que se refere às suas imagens diante das outras e do mundo. Enquanto umas demonstram ser uma coisa, outras ambicionam ser outra ou alguém completamente diferente ou distorcido de moral ou ética. Vemos Segunda querendo ser única, vemos Sábado fingindo ser uma mulher sedutora e conquistadora, vemos Sexta em seu mundinho separada das demais, mas sacrificando-se pelo bem comum, vemos Quarta cansada de pertencer àquela estrutura familiar, na qual se sente tão diferente e tão deslocada, mas que, no fim, rende-se a ela por entender que faz parte de um todo maior do que a instituição Karen Settman, mas à uma família em que todas (ou quase todas) se unem e protegem-se umas as outras por amor. Como seres humanos, estamos sempre querendo que nossas imagens sejam percebidas pelos outros, ora excedendo àquilo que somos, ora sendo parcialmente aquilo que realmente somos, mas nunca queremos ter nossas imagens inferiorizadas pela visão dos outros. Em alguns momentos, fingimos ser quem não somos para nos sentirmos incluídos socialmente. Na verdade, acho que constantemente evitamos ser nós mesmos com medo do que possam pensar, dos julgamentos ou críticas advindas do real em cada um.
Em suma, adorei o filme. Apesar de algumas falhas apontadas, acredito tratar-se de um filme que desencadeie uma análise incrível a cerca do mundo que nos rodeia e de nós mesmos como pessoas. É um filme que nos faz ver que a família, apesar dos defeitos, apesar dos problemas, continua sendo a base que nos faz ser quem somos. E que também nos transforma como seres humanos num mundo em que nada (ou quase nada, ou apenas alguma coisa) é como aparenta. Se não valorizamos nossas raízes, como esperamos ser reconhecidos no mundo? Melhor: como queremos conhecer a nós mesmo se rejeitarmos o meio do qual viemos?
OBS: Acabei dando spoilers, porque sou dessas mesmo! 😆
XOXO
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