Cadê as relações interpessoais no século XXI?


By Cathy Scarlet




Vivemos numa era de extremismos dos mais variados gêneros e em todos os meios sociais. Numa época em que as relações familiares já não garantem o "surgimento"/desenvolvimento de indivíduos que saibam se portar em sociedade, respeitando limites e obedecendo regras socialmente estabelecidas para uma convivência saudável, nem críticos para lutar pelo que é direito e ético visando um futuro melhor e mais civilizado para uma esfera ampla e não apenas individual; numa época em que os relacionamentos entre as pessoas se tornaram efêmeros e "poli-tudo", sem aprofundamento de sentimentos, mas transformados em buscas incessantes por "aprofundar-se" na intimidade do outro sem, todavia, criar fortes laços; numa época em que nós próprios nos vemos no dilema de perguntar até que ponto os egos se tornam mais importantes diante de questões voltadas para o coletivo; numa época em que a violência toma proporções desumanas, na qual os bandidos são tidos como vítimas e tendo a Justiça a defendê-los por meio de brechas em leis retrógradas (conservadoras, regressistas, antigas, obsoletas, atrasadas, antiquadas), fica evidente o auto questionamento no qual me encontro: como podemos determinar uma solução ou achar uma razão para tais problemas, constantemente diante de nossos olhosk, num momento em que a própria tecnologia parece nos afastar uns dos outros?

Não adiantaria chegar aqui e achar que não existe um histórico para as modificações nas relações interpessoais no atual século em que vivemos. Óbvio: muitas questões que começaram a afastar uns dos outros envolvem a ampliação de meios tecnológicos na sociedade como um todo pela chamada Globalização, que ganhou um massivo sucesso mediante o sistema Capitalista. Ressalto que a tecnologia, em si, não é a responsável, pois só atua mediante nossas maquinações, nossos desejos e ambições, tanto que muitas criações surgidas com sua evolução nos são extremamente benéficas até hoje, bem antes da Idade Média, diga-se de passagem. O fogo, sistemas de irrigação, trens à vapor, vacinas, cura de doenças, tratamentos para tantas ainda sem cura, telefonia, rádio, TV, e outras criações que foram aparecendo e se transformando com o passar dos anos e, hoje, à uma velocidade fora de série, impulsionadas (e impulsionando, ao mesmo tempo) por nossa imensa necessidade atual em estarmos atualizados no que há de mais novo. Afinal, não queremos ser excluídos tecnológicos, não é mesmo?

E o que a tecnologia tem a ver com as relações entre as pessoas?

Basta observarmos como alunos numa sala de aula parecem mais entretidos com joguinhos no celular, mensagens de aplicativos, selfies do que em aprender e participar das aulas, despreocupados, sem pensar no próprio conhecimento ou na própria formação para uma possível continuidade nos estudos ou simplesmente para o mercado de trabalho, imensamente exigente e competitivo que os aguarda sem apiedar-se de suas dificuldades (ou daquelas que os próprios deixaram se instalar por mero comodismo e uma falta de ambição positiva); ao olharmos quantos acidentes acabam com vítimas até mesmo fatais por imprudência de motoristas no celular, ou de pedestres também distraídos; quando vemos quantas pessoas estão perdendo seus empregos por terem sido pegas em fotos dentro dos locais de trabalho e durante seus turnos; basta vermos a extrema violência que tem tomado conta, principalmente, dos nossos jovens pela constante necessidade de "ter coisas" e que, para tanto, se embrenham (metem-se, entram, introduzem-se) em assaltos, sequestros, latrocínios (que têm aumentado nos últimos anos pelo lema da "ostentação" irrefreada, imensamente difundido, principalmente, pelo funk). Todos os exemplos anteriores nos mostram o quanto estamos numa sociedade doente para ter o que é de mais novo, não importando o preço a se pagar ou a quem sacrificar no processo. Basta vermos quantos relacionamentos fracassam por causa de aplicativos (POST SOBRE O ASSUNTO VIRÁ MAIS ADIANTE) ou como alguns relacionamentos se tornam quase promíscuos com o incentivo desses mesmos aplicativos: homens comprometidos procurando mulheres fora dos relacionamentos, casais querendo menages a trois ou orgias, homens que "descartam" mulheres constantemente por se verem diante de um imenso "menu" de oportunidades das mais variadas, sem se preocupar com sentimentos ou expectativas quebradas da outra parte, outros ainda que não conseguem aprofundar-se numa relação por nunca estarem satisfeitos com uma única pessoa fazendo parte de sua vida, outros ainda que optam por relacionamentos que não os satisfazem além da esfera sexual (muito mais fácil descontar tudo no sexo do que criar um laço em que haja uma base de sustentação real que, acreditem ou não, NÃO É O SEXO!). Basta vermos perfis de páginas na internet com milhares de seguidores, mas cujos donos são pessoas solitárias e vazias no cotidiano, até mesmo isoladas das demais pessoas. Ou seja: estamos nos perdendo todos os dias, perdendo oportunidades significativas e reais, perdendo bons momentos, perdendo boas pessoas pelo prazer da volubilidade (instabilidade, oscilação, diversidade variedade, inconstância), que recai sobre nossos carácteres e, não apenas sobre nossas ações, isoladas ou não. 

O fato é: apesar de vivermos numa era de informações mil, nossas capacidades de nos comunicarmos uns com os outros, de convivermos com as pessoas e de estabelecermos conexões saudáveis e duradouras, lutarmos e nos colocarmos no lugar do outro perderam-se. E isso aconteceu por estarmos voltados para nós mesmos e nossos interesses (salvo as exceções). Já nos perdemos nesse mar tecnológico que, mesmo quem não é adepto, acabou afetado por sua voracidade, pelas facilidades abertas diante de nossos olhos nesse século em que nada mais é novidade, tudo se torna obsoleto e desnecessário num piscar de olhos. O ruim é que tal aspecto estendeu-se às pessoas. 

Vejo-me, portanto, num momento sem perspectiva nenhuma de melhora nesse quadro deprimente de constante desvalorização de tudo e todos. Não vou negar que gosto de redes sociais, aplicativos de jogos, de mensagem ou de relacionamento, mas isso jamais se tornou um meio que me afetasse de forma a não conseguir ter convivência ou a realizar minhas tarefas do dia a dia, nem que me afastasse de uma boa leitura ou de informações do mundo que me cerca de modo a interpretá-las crítica e cuidadosamente. Mas de que maneira posso modificar a mentalidade dos outros? Não tenho poder para tal, quando os demais não veem necessidade disso. Cabe uma decisão individual de refrear a indigência fremente (agitada, violenta, ardente, veemente) dessas "vantagens" que separam o ser do que é realmente necessário ou valioso.

As pessoas andam focadas em si mesmas a tal ponto que a nossa sociedade incita (desafia, intensifica, impulsiona, encoraja) a constante competição entre os pares para ascender-ser social, econômica ou profissionalmente, sem pestanejar, merciless (impiedosa). A última é a menos pior, pois incentiva uma permanente reciclagem de conhecimentos, técnicas de aprimoramento individual, mas também tem o lado negativo: colegas "puxando o tapete" uns dos outros por puro ego ou para se promoveram diante de seus superiores, intrigas para mostrar-se maioral... E as duas primeiras, na minha opinião, possuem mais pontos negativos do que positivos, pois acabam despertando o pior nas pessoas numa sociedade em que todos querem ser "mais": mais amados, mais bonitos, mais sedutores, mais admirados, mais populares, mais ricos, mais gananciosos, mais conhecedores de tudo, mais abastados daquilo que nem precisam. Ao passo que pensam deixar de ser "menos": menos prepotentes (déspotas, tiranas, dominadoras, opressivas, pretensiosas, arrogantes), menos gananciosas, menos egocêntricas (individualistas, autocentradas, ególatras), menos negativamente competitivas, menos desumanas, menos destruidoras, menos pessimistas. Contudo, o menos se torna o mais.

Em uma era em que estamos expostos a inúmeras e infindáveis informações sobre tudo e quaisquer assuntos, ficamos frente a frente com indivíduos que, dizendo-se entendedores-mor dessas mesmas informações, não admitem contestações ou novas teorias ou novas abordagens, como se apenas a verdade de seu saber fosse a ÚNICA existente sobre determinada área de conhecimento (tirando os narcisistas - vaidosos, orgulhosos, esnobes, pedantes, pomposos - que acham que sabem de tudo). Não há pontos de vista que façam sentido além do dessas pessoas. LOUCURA (desvario, demência, alucinação, insensatez, leviandade, irreflexão, paranoia, desrempero)! Em uma sociedade que, tecnicamente está em constante evolução, por que agimos de modo a "desevoluir" as coisas, minimizar ou menosprezar a participação crítica, ou hipotética, ou abordagens teóricas inovadoras pelo simples fato de não querermos sair de nossos portos seguros (que já não bastam nessa sociedade, pois tudo está avançando e, apenas tais pessoas querem se manter nos mesmos moldes, nos mesmos padrões como se não houvesse mais  nada atrás do muro dentro dos quais nos mantemos falsamente protegidos).

Sei que às vezes é muto fácil apenas aceitarmos certas circunstâncias como imutáveis (permanentes, definitivas, inalteráveis) e sempre nos dispormos a ser vítimas dos diversos sistemas que nos rodeiam a todo momento: beleza padrão, educação, política, saúde, burocracias sem fim, etc; contudo, diante de tantas coisas nos cercando e nos dando diretrizes mil para agirmos ou contra-atacarmos de modo positivo, enriquecedor e construtivo, como conseguimos transformar nosso meio (seja ele qual for) em mais um que não produz, que não rende, que não vai além do que poderia ir e, assim mesmo, nos mantermos com o pensamento leve ao dormir, como se nada estivesse errado? As ponderações críticas, debates devem manter-se numa esfera de racionalidade, ao invés de discussões acaloradas e agressivas que não levam a lugar algum, só a mais demonstrações de egos inflamados, egos que querem se soerguer (elevar, erguer, alçar) diante dos outros e, os problemas que deveriam ser tratados a fim de achar uma solução para eles são deixados de lado, esquecidos no mar de exaltações sem propósito, tendenciosas e de ideias preconcebidas que não se sujeitam a novos paradigmas já existentes na atualidade. Vemos muito disso na política: muitos daqueles que foram eleitos pelo povo lá estão propondo leis que já não atendem às necessidades da maioria, mas que não arredam o pé do que querem, pois o que importa são os interesses deles, acima de qualquer coisa.

Pior de tudo é ver como as famílias estão desestruturadas. Pais que não conseguem dialogar com seus filhos (alguns nem querem dialogar também, como se as crianças e jovens já fossem independentes e auto suficientes para se manterem por si mesmos) e os deixam na responsabilidade de terceiros, jovens que já não sabem se encaixar na atual conjuntura social onde estão inseridos e recorrem a diversos mecanismos para auto alienarem-se (apartar-se, excluir, isolar, desviar, afastar, abstrair-se, desinformar-se, abandonar) ou fugirem da realidade, como jogatina, bebida, drogas, auto-mutilação, suicídio, sexo, ações com alto teor de adrenalina e muito perigosas como rachas, brigas, brincadeiras que os deixam diante da morte, etc. Tantos e tantos problemas vão se acumulando, tantas frustrações vão surgindo e impossibilitando uma reação racional da parte da nossa juventude e da nossa sociedade, como um todo, que vemos muitos distantes de um reconhecimento de si mesmos, de suas limitações e defeitos de modo a tornar o que é negativo em algo positivo, mediante mudanças de percurso, auto-análise, reorganização de prioridades e, acima de tudo, conversas abertas, sinceras e receptivas com as pessoas que amam e que deveriam estar lá por eles, dando-lhes conselhos e um direcionamento que não tem maturidade para perceber por conta própria. Os pais são pais para sempre, independentemente da idade do filho ou do fracasso dos relacionamentos entre os casais, ou a desintegração da família nuclear, esses jovens precisam dar-se conta que há alguém por eles, pessoas que se preocupam e que não permitem que cheguem a perder-se na vida, como tantos e tantos casos. Estamos deixando as redes sociais e maus exemplos educarem nossa juventude. Que resultará disso? 😱

Será que existe solução para esse impasse? Quero muito acreditar que sim.

Só o tempo dirá.

OBS: Quando eu achar uma forma melhor de concluir (menos pessimista), talvez eu dê uma atualizada nisso aqui.








XOXO




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