Um conto de Natal - Charles Dickens (1843)
By Cathy Scarlet
Ficha Técnica
Livro: Um conto de Natal (A Christmas Carol)
Autor: Charles Dickens
Autor: Charles Dickens
País: Inglaterra
Ano de Lançamento: 1843
Gênero: conto, drama
Editora: Antofagica Editora
Nota: 10
Quando chegamos na época de Natal, muitas histórias, filmes, minisséries acabam surgindo junto e, num desses momentos basicões de fuçagem no Youtube, vi um vídeo recomendando esse livro do Charles Dickens, autor que conhecia por leituras feitas na época da faculdade. E a indicação foi feita com tanta ternura, evocando sensações tão boas que não resisti e comprei justamente a edição mostrada no vídeo-resenha. De fato, uma versão adorável, com gravuras sutis nesse livro pocket. Além disso, ao final dele, há algumas notas de tradução bastante pertinentes envolvendo os nomes dos personagens (falo disso um pouco mais, daqui a pouco), um posfácio e um artigo falando do legado natalino do escritor da obra.
Vamos começar falando um pouco sobre o criador: nascido Charles John Huffam Dickens, em 1812, ficou conhecido como um dos mais famosos romancistas ingleses da época do realismo inglês. Possuí inúmeras obras reconhecidas como: Tempos difíceis (Hard Times), Grandes Esperanças (Great Expectations), Oliver Twist, David Copperfield, A casa sombria (Bleak House), entre outros romances (publicados como folhetins, na época), mas também as crônicas e os contos estão entre seus fazeres literários como é o caso daquele do qual falaremos aqui. Seu legado possui grande crítica social da época vitoriana. Começou cedo a trabalhar para ajudar sua família, já que o pai acabara preso por dívidas, acabando por conhecer a realidade dentro das fábricas no período industrial. Enamorou-se, foi rejeitado, casou-se com outra, teve filhos, separou-se e amigou-se com outra mulher, que o acompanhou até o fim de sua vida, em 1870. Sua escrita caracteriza-se por expor problemas sociais da época (que, não surpreendentemente, se arrastam até os dias atuais em muitos lugares) como violência, miséria, desemprego, as condições precárias de trabalhos nas fábricas e a prostituição, dada sua consciência social e engajamento em melhorar as condições de vida das pessoas. Outras características dele são o humor, ironia, enredos intrincados (entrelaçados, emaranhados, embaraçados), descrições sugestivas que acabavam se estendendo para os nomes que escolhia para suas personagens, enfatizando características delas.
Agora que já sabemos um pouco do criador, vamos tratar um pouco a respeito de sua criação. Publicada em 1843, o conto já pode começar a fascinar pelo nome em inglês (A Christmas Carol que, traduzindo, seria Um canto de Natal), já oferecendo uma prévia de uma história de temática delicada e singela. Logo nas primeiras páginas, o narrador em terceira pessoa menciona a obra Hamlet de William Shakespeare para enfatizar que o sócio de Ebenezer Scrooge, o personagem principal da narrativa, Jacob Marley estava morto há sete anos quando nossa história começa e, prontamente pensamos: aí tem! Muito suspeito essa afirmação out of nowhere (do nada). Dito e feito: o mesquinho, avarento, misantropo do Scrooge recebe, à noite, a visita do fantasma do falecido amigo. Vale lembrar que tudo se passa próximo ao Natal, época em que o coração do dono do armazém Scrooge e Marley parece fechar-se ainda mais, tornando-o de desagradável a insuportável, recusando-se a doar em prol dos necessitados, recusando o convite de seu único sobrinho para passar as festas em sua companhia e atormentando seu empregado Bob Cratchit, o modesto pai e marido de vida simples, pai do frágil Pequeno Tim, um menino deficiente.
Para termos noção de como Scrooge é, no mínimo, intolerável, o narrador assim o descreve:
Nossa! Mas que mão fechada tinha esse Scrooge! Que unha de fome, mão de vaca, avarento, muquirana, miserável, olho-grande era o velho pecador! Duro e bruto feito pederneira, da qual aço algum jamais forneceria uma chama generosa, resguardado e isolado, e solitário feito uma ostra. O frio dentro dele lhe congelava as rugas (...). Ele andava sempre acompanhado de sua própria temperatura baixa (...).[...] Nenhum vento já soprado era mais cortante que ele...
[páginas 20 e 21]
Ou seja, ninguém ousava se aproximar do velho, seja por sua postura, seja pela própria aura que repelia os demais. Mas, voltando... Em sua visita, o fantasma de Marley o avisa da vinda de mais três fantasmas, no intuito de fazê-lo reconsiderar sua jornada, mudando seu destino, coisa que seu sócio não tivera tempo de fazer: o Fantasma do Natal Passado, o Fantasma do Natal Presente e o Fantasma do Natal Futuro.
Quando o primeiro fantasma aparece, nos vemos diante de uma infância difícil e solitária de um Scrooge ainda criança e que, apenas anos mais tarde, é recebido ao seio familiar novamente, por interferência de sua irmã, que garantira que seu pai havia mudado. E seguimos, vemos momentos alegres, em que pessoas foram boas com o Scrooge do passado, como seu antigo patrão e com quem aprendera o ofício no armazém, Sr. Fezziwig. Mas nos deparamos com os rompimentos em sua vida após sua mudança de comportamento: Belle, a mulher com quem tivera um compromisso, rompe-o por não mais sentir fazer parte do mundo dele, tendo se tornado opostos. As lembranças do passado causam-lhe nostalgia, porém, antes de mais nada, dor.
O segunda fantasma, um bondoso gigante que espalhava boas vibrações por onde passa, o leva pela cidade para que Scrooge veja como os demais ao seu redor passam o Natal. Vê muita movimentação, muitos risos, brincadeiras, harmonia e união e notamos que começa a ansiar por partilhar daquilo, bem como escuta seus nomes nas bocas daqueles que menos tiveram reciprocidade de sua parte: seu sobrinho, único filho da irmã que amara, e de Bob, seu empregado, ambos desejando-lhe coisas boas naquelas festividades. Compadece-se do Pequeno Tim, tendo conhecimento, por meio do fantasma, que o menino acabaria por morrer por conta das péssimas condições vida da família, já que ganhavam pouco e eram muitas bocas a serem alimentadas e cuidadas. No entanto, apesar dos pesares, eram uma família feliz e unida.
O último e terceiro fantasma o leva ao Natal futuro (ou do Natal por vir), onde vislumbra sua morte, motivo de alívio para alguns, de lucro para outros, mas de extremo pesar para Scrooge, sozinho e abandonado a sua sorte, sem nenhum pensamento positivo de ninguém na cidade a seu respeito. Completamente esquecido. Atormentado, pergunta se há como mudar seu destino e, ao voltar a realidade, dá-se conta de que estava em suas mãos o final daquela história. Já transformado, assume outra postura diante da vida e das pessoas que o cerca e, finalmente, não se recusa a não apenas comemorar o Natal, mas ser a própria representação dos bons sentimentos que nos motiva nessa época mágica do ano.
Para quem quiser fazer uma análise literária mais aprofundada e pormenorizada, vale destacar as intertextualidades presentes na leitura e que a enriquecem de significações e elementos simbólicos. As principais são Hamlet do Shakespeare, traços da Divina Comédia de Dante Alighieri e Robson Crusoé de Daniel Defoe. Destaco, ainda, que seu conto possui elementos da literatura fantástica, com alguns dos elementos dos autores acima auxiliando nessa incursão ao sobrenatural. Vale ressaltar que Dickens, com sua abordagem cristã e com outros sinais ligados à sua própria vida pessoal, nos revela uma faceta de uma data que, antes, havia perdido o brilho por conta das condições subumanas das pessoas mais humildes no século XIX, sendo sua obra responsável por retomar os valores de perdão, renovação, fé e sensibilidade entre as gerações que se seguiram.
Trata-se, portanto, de um enredo singelo, permeado de sutilezas que nos fazem refletir sobre o que é realmente válido e importante nesse mundo, mesmo ante os momentos ruins de nossas vidas. Scrooge é um exemplo de como se pode corrigir atitudes negativas e fazer a diferença na vida das pessoas. Às vezes, quem menos esperamos é quem mais está pensando em nós e nos desejando o melhor. Não é apenas no Natal, mas em todos os demais dia do ano. Em muitos casos, é quem menos valorizados e que, no final, estão apenas esperando uma atitude nossa para se sentirem felizes. Recomendo a leitura não apenas para crianças, como para os adultos, pois vale muito a pena. É simplesmente encantadora, de linguagem simples e cativante, dá para ler sem nem se dar conta por sua leveza e pelas lições que nos ensina a cada página. Que possamos tornar os momentos ao longo de nossa vida em memoráveis e alegres, convidando outros a partilharem conosco suas alegrias, infortúnios e angústias. Somos todos parte de uma grande roda que continua sempre a girar dependendo de nossas escolhas.
XOXO
FONTE DA IMAGEM DA CAPA
https://www.amazon.com.br/Um-Conto-Natal-Edição-Exclusiva/dp/6580210109/ref=sr_1_5?__mk_pt_BR=ÅMÅŽÕÑ&dchild=1&keywords=Um+conto+de+natal&qid=1630505341&sr=8-5
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