O castelo de Otranto - Horace Walpole (1764)

By Cathy Scarlet



 

Livro: O castelo de Otranto
Autor: Horace Walpole
País: Inglaterra
Ano de Lançamento: 1764
Gênero: Romance gótico
Editora: Escotilha

Nota: 7


Trago essa relíquia com a qual me deparei ao ler a respeito num artigo de crítica literária. Curiosa, não me contive. Agora, ofereço minha singela contribuição opinativa sobre esse romance gótico do século XVIII, considerado uma referência para outros autores.


Escrito por Horace Walpole, também conhecido como 4º Conde de Orford. Nascido em 25 de fevereiro de 1757, em Londres, era filho do Primeiro Ministro Britânico Sir Robert Walpole com sua primeira esposa Catherine Shorter. 


Horace Halpole


Ao falecer, o título de conde passou para o filho mais velho e, só anos depois, acabou parando nas mãos do único sucessor vivo, o próprio Horace. Entrou no Parlamento, um pouco antes da renúncia de seu pai, trabalhando no Tesouro. Considerado um homem elegante e de bom gosto, transformou em estilo gótico sua propriedade em Strawberry Hill, na zona oeste de sua terra natal. Não coincidentemente, foi justo esse o estilo empregado em sua escrita. Morreu sem deixar herdeiros, em 2 de março de 1797, dando fim ao título herdado do sobrinho.


Strawberry Hill: o lugar contava com sua própria imprensa para impressão das produções escritas de Halpole.


Sua gothic novel (romance gótico), O castelo de Otranto, foi escrita em 1764, fruto de um sonho de Halpole com um castelo misterioso. Considerado como o primeiro romance gótico, foi enganosamente atribuído a um autor italiano de nome Onuphrio Muralto e traduzido pelo, então, pseudônimo de Halpole, William Marshal. Contudo, na edição seguinte, Halpole resolveu assumir a autoria por conta do "modo favorável com que esta pequena obra foi recebida". 


A história se passa na propriedade de Otranto, que inclui o castelo e cenário principal. Em meio aos momentos antecedendo ao casamento do herdeiro e príncipe Conrado com a princesa Isabella, um acidente horrível acontece: o noivo é esmagado por um enorme elmo.


Assustado com o ocorrido e vendo nele um indício que colocava em perigo seu legado, o príncipe Manfredo decide divorciar-se da princesa Hipólita e assumir o lugar de noivo. Contudo, assustada com a perspectiva, Isabella foge com a ajuda de um misterioso camponês feito prisioneiro e refugia-se no monastério. Lá pede ajuda ao frei Jerônimo, que tenta convencer o senhor de Otranto da loucura de sua decisão intempestiva (inapropriada, inoportuna). Na busca, os serviçais do castelo assombram-se com estranhos eventos. Essa atmosfera causa ainda mais alvoroço e desperta o receio em todos.


Nesse meio tempo, a filha do príncipe, a princesa Matilda, toma conhecimento da fuga daquela com quem mantem uma relação de ternura fraternal e acaba conhecendo o prisioneiro, que a impacta. Ambos acabam se apaixonando, mas a união torna-se impossível com o retorno do verdadeiro príncipe de Otranto e pai de Isabella, Frederico. Este acaba se encantando por Matilda, fazendo seu pai arquitetar um plano para manter-se como soberano das terras, seu título e ainda obter a mão da filha a quem tanto Frederico estima. Porém, ambos os príncipes acabam tendo uma surpreendente revelação que muda o rumo da vida de todos.


Algumas temáticas se sobressaem e se tornam universais:

  • A ambição é bem marcante, principalmente nas personagens masculinas. Manfredo é a personificação singela de como se pode passar por cima dos princípios, dos laços afetivos e da cordialidade para obter aquilo que se almeja. Ele despreza até seus próprios sentimentos de luto para focar em manter um legado usurpado intacto e atropela a própria família nesse intuito. 
  • O ciúmes também é um ponto bem interessante a ser ressaltado. Isabella, por exemplo, muda de atitude para com Matilda ao considerá-la uma rival ao amor de Teodoro. Inclusive cogita incitar a amiga em seus propósitos de tornar-se freira. Manfredo também carrega a marca do ciúme ao ver em Teodoro um rival pelo amor de Isabella, o que culmina na desgraça que se segue. Demonstra como esse sentimento cega o raciocínio das pessoas e as faz mudar completamente com relação a outras pessoas pelo simples pensar nisso. Tornam-se reféns de suas próprias paixões, materiais ou não.
  • A herança surge como uma premissa que engloba o romance. Todos os personagens acabam sendo atingidos por essa maldição que chamamos também de legado. Cada qual se deixa afetar de diferentes formas pela perspectiva de possuir ou manter o poder sobre um bem. Quantas pessoas no mundo não ficam absurdamente enlouquecidas ao ganharem uma herança inesperada? Ou quantas outras não cometem crimes descabidos para tê-la?
  • A adoção, embora não colocada verbalmente, surge na relação entre Hipólita, Matilda e Isabella, esta última sendo acolhida como parte da família por aquelas. Mesmo ante todos os obstáculos, o sentimento entre as três é comovente, embora perturbado pela conduta dos patriarcas das famílias. Novamente, nos incita a perceber como o sangue não é o único elemento quando nos afeiçoamos a alguém e os abraçamos em nossas famílias. Tornamo-os parte de um todo e com ele compartilhamos as angústias e alegrias. Não são elos fáceis nem simples, porém tão verdadeiros quanto aqueles que estabelecemos com quem nasceu da mesma árvore genealógica.

Enfim, há outros temas que poderiam ser elencados aqui, mas é apenas uma breve explanação de tópicos que achei interessantes dividir com vocês.


A trama é construída em discurso direto. O narrador é em terceira pessoa e onisciente, uma vez que acaba nos revelando sentimentos dos personagens e conhece todos os percursos aos quais vai nos tentando à conta-gotas. Somos presos no triângulo amoroso formado por Matilda, Teodoro e Isabella, bem como no destino do antagonista. É uma história de fácil leitura, mas que acaba se tornando um pouco maçante ao utilizar-se do mesmo recurso para prolongar informações que seriam facilmente eliminadas sem afetar o desempenho geral e sua fluidez. Vale a pena ser apreciada, mas alguns pontos temáticos poderiam ter uma amarração mais concisa. Os elementos da maldição acabaram sendo pouco explorados. Ao menos, senti como se faltasse algo para, de fato, elucidar alguns acontecimentos. De qualquer maneira, algumas características do gótico se manifestaram (como a presença do sobrenatural, passagens secretas e o cenário medieval) e foram bem apreendidos por autores que se utilizaram da obra de Halpole como uma direção a qual puderam aprofundar em suas próprias construções literárias. 








XOXO






REFERÊNCIAS

https://pt.wikipedia.org/wiki/Strawberry_Hill#/media/Ficheiro:Strawberry_Hill_House_from_garden_in_2012_after_restoration.jpg (Imagem)

https://en.wikipedia.org/wiki/Horace_Walpole 

https://www.bridgemanimages.com/en/noartistknown/horace-walpole-1717-1797-4th-earl-of-orford-english-man-of-letters-and-collector-mezzotint-c-1850-by/nomedium/asset/3386902 (Imagem)

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