Contos de Fadas para Garotas Corajosas - Anita Ganeri (2021)

 By Cathy Scarlet





Livro: Contos de Fadas para Garotas Corajosas (Fairy Tales for Fearless Girls)
Autor: Anita Ganeri
Ilustrador: Khoa Le
País: Inglaterra
Ano de Lançamento: 2021
Gênero: Contos de fadas
Editora: Pé da Letra
Nota: 9


E viveram felizes para sempre... Num castelo onde a princesa jamais deixaria de ter inúmeros filhos, sendo protegida por seu príncipe pelo resto da vida, com quem se casara num piscar de olhos. Ok, pode ser uma concepção exagerada, porém não nos é estranha dado que já a vimos em inúmeros contos de fadas envolvendo um princesa em perigo sendo resgatada por um lindo príncipe de um reino distante. Ficamos até saturados dessas mesmas relações entre: 

  • a mulher e ideia de fragilidade;
  • a mulher e seu subjugar pela figura masculina;
  • a mulher e a impossibilidade de assumir o controle da situação
  • a mulher e sua constante para estar em situação de perigo
  • a mulher e o casamento
  • a mulher e os filhos

E por aí vai. Em suma, é como se relegassem a mulher os papeis de esposa, mãe e filha, e estas sempre tendo de ser amparadas financeira e emocionalmente por terceiros, quase sempre um homem, que a arrebata nos primeiros momentos ou que causa sobre ela um fascínio tão grande que a leva ao altar em questão de poucas "espadadas" em alguns monstros ou vilões. E, pior que isso, é nos darmos conta de que nossas crianças (meninas, principalmente) cresceram tendo essas concepções reforçadas e criadas para serem moldes de mulheres frágeis, dependentes de uma figura masculina e impossibilitadas de construirem suas trajetórias por conta própria. Portanto, quando chegamos em pleno século XXI com uma mudança desses nortes machistas, conseguimos perceber o quão poderosas podemos ser sem nos definirmos por olhares preconceituosos pautados numa realidade que não podemos mais contemplar como única. Nada contra as mulheres dos contos de fadas tradicionais que vivem na nossa atualidade, mas por que não aceitar as que são diferentes?


Eis que, dentre inúmeras abordagens voltadas para nossa era pós-moderna, me deparo com este livro, de Anita Ganeri, indiana nascida em 1961 e residente na Inglaterra desde pequena, escritora de livros para crianças, que nos apresenta histórias nas quais as personagens femininas são as heroínas de suas próprias histórias e mostram-se tão poderosas e inteligentes que deixam os homens no chinelo com suas performances envolvendo questões de independência, autonomia e coragem femininas num universo onde os homens detinham as ações e peripécias para salvar e serem ovacionados por seus feitos. Agora, encontramos mulheres aguerridas e seguras de si, a ponto de não precisarem de um homem para defendê-las do mau ou compartilhar com elas uma existência dentro da concepção matrimonial que tínhamos até bem pouco tempo. 


A escritora Anita Ganeri


Em histórias curtas e ilustradas com um esmero e delicadezas ímpares, nos encantamos com princesas decididas, exímias guerreiras e mulheres sem títulos com tamanha bravura e esperteza para ninguém mais dizer que lugar de mulher é em casa, cuidando dos filhos. Nossa perspectiva da realidade (tão longamente difundida por séculos e séculos, em contos de fadas e outras histórias por aí) muda a cada página, levando-nos a compreender a dimensão e a importância de incutir em nossas crianças que os papeis desempenhados pelas mulheres agora são infinitos e tão válidos quanto aqueles dos quais tivemos conhecimento por tanto tempo. 


Com a leitura dos contos desse livro, aprendemos, por exemplo, que:

  1. a mulher pode exercer qualquer papel no mundo (até mesmo o de uma guerreira);
  2. a mulher pode ser tão forte quanto um homem;
  3. a mulher pode ajudar o sexo oposto sem que isso seja rebaixá-lo, contribuindo em parceria;
  4. a mulher pode ter sua própria trajetória sem um homem para determiná-la;
  5. a mulher é um ser capaz de racionalidade e sabedoria (não que seja nenhuma novidade...);
  6. a mulher não se define por aparência


Um dos pontos negativos que marcou mais foi o fato de ainda ter essa relação da mulher e com o matrimônio, mesmo havendo momentos em que a expectativa fosse quebrada, com ela  não querendo se submeter a uma união indesejável, ainda é muito intrínseca na construção do gênero essa noção da conexão romântica para validar uma mensagem ou uma trama. Fora tal detalhe, é um livro que recomendo para as crianças. É um dos primeiros passos para fortalecer nosso papel feminino e, desde os primórdios da vida delas, fazê-las compreender as inúmeras possibilidades a que têm direito para que, assim, ninguém nos diga o que não podemos fazer ou quem não podemos ser. 






XOXO




REFERÊNCIA

https://us.macmillan.com/author/anitaganeri 

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